quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Experiências válidas

Acredito que o homem enquanto ser só pode conhecer a partir de suas experiências. Este é um debate que permeia anos de pensamento filosófico e das demais áreas e cá estou, eu, uma mera estudante, pretendente a alguma coisa, afirmando que o conhecimento deriva de nossas experiências. Sim, estou fazendo isso.

O homem quando se permite conhecer através de suas experiências, enriquece seu intelecto. Quando conhecemos, algo muda em nós. Depois que temos posse de algum conhecimento dado pela experiência, já não somos mais os mesmos. Não podemos mais voltar a ser aquilo que fomos. Estamos em constante mudança. Créditos totais a Heráclito. Eu gosto dele.

O fato de conhecermos a partir da experiência não exclui que podemos produzir conhecimento através da razão. Sim, isso é possível. Mas a razão não tira nada dela mesma. A razão apenas trabalha com as informações que já possuímos através da experiência. A experiência é a fonte primária de qualquer tipo de conhecimento que o homem pode produzir.

Permitir-se viver, experimentar cada dia um novo dia, olhar para o outro lado, pensar de forma diferente, nos faz perceber que há uma grandeza no mundo que não pode ser apenas medida pela nossa racionalidade. De certa forma, nossa racionalidade nos aprisiona. Não podemos ser de todo racionais, não mesmo.

Ora, pois quem me conhece, deve pensar “O que essa louca tá dizendo, justo ela que coloca a racionalidade acima de tudo?”. Sim, justo eu, a louca que coloca a racionalidade acima de tudo. Essa mesma louca que consegue perceber, pela sua racionalidade que o mundo é mais que a razão, que o mundo também é experiência, é sentido e sentimento. Não acho que devemos nos jogar de cabeça no sentimento. Seria muito romântico da minha parte. Dizer que devemos sofrer, amar, odiar ou experenciar todos os tipos de sentimentos para depois racionalizar, seria um erro de minha parte. Mas digo sim, que devemos nos permitir.

Nos permitir viver. E se tiver que chorar, choremos. E se tiver que rir, que seja muito. Mas não devemos nos prender as simples questões sobre a razão. Nossa racionalidade não se enriquece sozinha. Ela precisa de mais. Precisa ser alimentada com aquilo que vivemos, que experimentamos.

Qualquer experiência é valida, seja boa, seja ruim.

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A lâmpada mágica

Existem certos assuntos que me incomodam mais que outros. Alguns pelos quais levanto bandeira e defendo como se fosse um pedaço de mim. Apesar de eu não fazer parte de uma minoria que sofre preconceito, seja ele qual for, defendo a causa. Por quê? Simplesmente porque faz parte de minha existência enquanto ser social não conseguir ficar calada quanto a certos assuntos, debates e discussões. Quando o assunto é preconceito, sou ferrenha defensora por igualdade, pois se eu visse um gênio saindo de uma lâmpada mágica, me concedendo algum pedido, este seria simples, já tenho na ponta da língua: respeitar o outro, acima de qualquer coisa.

Isso parece simples, a primeira vista, mas ao analisarmos mais profundamente, é demasiado complicado. Respeitar o outro? É fácil, não é? Digo-lhes que não.

Quando há um choque cultural e social é muito difícil respeitar o outro. Quando as pessoas não compartilham a mesma visão de mundo, os mesmos costumes e a mesma forma de ver a sociedade, conseguir transpor as barreiras do preconceito é cada vez mais difícil, quando não inacessível para alguns. Coloco aqui, desde já, que não estou me referindo a pessoas mais antigas, que tem mais de 50 anos, que viveram em outra época (o que ainda assim, não é justificável, porém, compreensível). Refiro-me aqui aos jovens senhores de 30 e poucos anos, sem falar nos mais novos, que vivem em uma crescente onda de homofobia.

Eis aqui o objeto de minha argumentação: homofobia. Por quê? Porque ultimamente estamos vivenciando em nosso país o que considero uma onda homofóbica. Eclodem movimentos de preconceitos que tentam justificar de forma racional e científica a origem de tamanho preconceito, ao meu ver, descabido.

Pessoas públicas se pronunciam contra os movimentos homossexuais, projetos de leis tramitam em todas as escalas governamentais de forma a institucionalizar valores antigos e discriminatórios, jovens batem, machucam e matam outros jovens por acharem que o outro é gay 1) como se isso fosse justificativa para qualquer ato violento, 2) sem contar que trabalham na suposição que o outro é gay. Somado a isso, a maior emissora de televisão aberta do país que dá um passo pra frente e dois para trás quando o assunto é homossexualidade. Na última trama exibida no horário nobre tiraram de cena um casal gay e espancaram até a morte um outro jovem homossexual. Depois disso, colocam na trama exibida atualmente um estereótipo ridículo de bixa louca que baba ovo de uma mulher igualmente ridícula, sem a menor ética ou moral, que faz questão de tratá-lo como um capacho. Detalhe: com o consentimento dele. É isso ai, vamos colocar os gays na senzala.

Um parêntese: falo da televisão e da Globo, em especial, pois não posso descartar em minha linha argumentativa que essa mídia (1) tem sim influência concreta na vida das pessoas, (2) cria sim estereótipos e (3) constrói sim parâmetros de moral e ética, trabalhando sempre com o dualismo bem X mal, colocando ali de forma explícita ou implícita seu conservadorismo cristão e modelos tradicionais, bem como seus valores ultrapassados.

No sentido oposto, percebo que há um aumento nos movimentos sociais em favor dos homossexuais, bem como medidas legais louváveis, como reconhecer a união homoafetiva e dar direitos iguais a casais homossexuais, e mais, o direito (no sentido legislativo) de constituir família, tornando legal a adoção de crianças por parte de casais do mesmo sexo. Isso sim são realmente grandes avanços, mas de certa forma, medidas que terão impacto significativo a longo prazo em nossa sociedade.

Sair do armário é só o começo.
Conheço pessoas que acham um absurdo casais homossexuais saírem nas ruas e passear em shoppings, por exemplo, de mãos dadas, vetando qualquer tipo de afeto por parte desses casais. Como se isso fosse “agredir nossas crianças”. No meu ponto de vista isso é ridículo e igualmente preconceituoso.

Que pelo contrário, cada vez mais esses casais saiam às ruas, passeiem de mãos dadas, beijem-se, da mesma forma como os casais heterossexuais. Somente assim “educaremos nossas crianças” a viver sem preconceitos, elas crescerão sabendo que podem gostar tanto de meninos quanto de meninas, que não é feio, errado ou doença. Que a homossexualidade seja naturalizada em nossa sociedade, que seja cotidiano vermos casais em locais públicos demonstrando afeto, carinho, se beijando e se abraçando.

Afinal, gostar de alguém está longe de ser algo ruim. Que “nossas crianças” saibam disso.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Desabafo

Sinceramente, desejo que todos os profissionais que trabalham no Hospital Porto Alegre nunca tenham alguma enfermidade que lhes deixem acamados ou debilitados de tal forma que necessitem de cuidados de terceiros ou que precisem de cuidados similares aos que vocês prestam aos pacientes no lugar em que trabalham. Salvo raras exceções, os demais que lá trabalham prestam um serviço de má qualidade, faltando com respeito aos doentes e familiares. Sem o mínimo de sensibilidade e cuidado com o próximo. 

Tenho para mim que pessoas que trabalham na área da saúde, principalmente em lugares onde o atendimento de emergência é a prioridade, precisam estar preparados para lidar não somente com as doenças físicas, mas também com as questões psicológicas que envolvem o trato com pessoas. Afinal, todos somos seres humanos.

Nestes últimos dois meses, mais especificamente, desde o dia 2 de outubro, vivo nessa rotina de hospital, diariamente lidando com as equipes médicas e de enfermagem do HPA e o que pude perceber é que estas pessoas escolheram a profissão errada. As condições dos pacientes que lá se encontram são muito delicadas e, por vezes, a debilidade dos enfermos dificulta o trabalho dos técnicos e enfermeiros. Neste sentido, tentei fazer um processo de alteridade, me colocando no lugar deles enquanto profissionais, mas ainda assim, não consigo compreender o que se passa por lá. Tratam a vida das pessoas como se pouco fizesse diferença aquele ser humano estar vivo ou morto. Se lixam para a higiene e cuidados básicos que precisam ter com pacientes, expondo os mesmo a infecções e problemas decorrentes da falta de preparo em lidar com o outro. Não enxergam os pacientes como pessoas e sim como coisas, que estão em cima de uma cama, atrapalhando a roda das fofocas.

Esse ambiente hospitalar em nada auxilia na recuperação, pelo contrário, traz a tona todos os problemas estruturais de uma gerência hospitalar mal organizada, bem como, a falta de critérios na seleção dos profissionais que vão trabalhar lá. Para que as coisas "andem" e para que se tenha algum tipo de atendimento (não é nem "bom" atendimento, só o básico mesmo) é preciso reclamar, xingar e fazer barraco, literalmente! Assim, aos trancos e barrancos as coisas acontecem! É triste essa realidade, ainda mais se pensarmos que não é um hospital público, que não atende ao SUS, somente aos funcionários municipais de Porto Alegre. 

Como já citado anteriormente, que todas essas pessoas que lá trabalham e contribuem para o estresse da minha e de várias outras famílias, nunca precisem passar por essa situação que estamos passando. Se lidar com um familiar enfermo é complicado, estressante e cansativo, por outro lado, nos faz valorizar a vida e os seres humanos. Olhar para o outro como um ser, alguém que vive e que merece cuidados para continuar vivendo, alguém que merece qualidade de vida, mesmo em seu quadro de debilidade. Tratar o outro como "coisa" faz com que se percam os valores éticos, profissionais e morais que existem e, principalmente, faz com que se perca um pouco da humanidade que há dentro de nós.

Para os profissionais que fazem valer a máxima que "são raras as exceções, mas existem", a estas, que tenham uma vida maravilhosa. Aos demais desejo respeitosamente que adentrem o órgão genital masculino em seus devidos ânus.


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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sem medo

De que adianta chorar por algo que não vai mudar, nunca mudou. Alimentar as ilusões é o pior dos defeitos da humanidade.

É tempo de seguir em frente, levantar a cabeça e sacudir a poeira. O nosso horizonte é do tamanho dos nossos sonhos, alcança até onde queremos chegar.

Vivamos o hoje, pois promessas de uma outra vida já não confortam mais. O que temos é o agora, um instante, um segundo. É isso que deve pautar a nossa existência.

E se para buscar a felicidade devemos seguir um caminho totalmente oposto, que o façamos. Sem ter medo de errar, sem ter medo de acertar. Sem ter medo algum.

O medo é um sentimento que aprisiona nossa alma. O medo paralisa nossas ações. O medo sufoca os sentidos.

Abandonar o medo, a insegurança, as dores e o sofrimento. Alimentar a alma com bons sentimentos, alegrias e tudo aquilo que deixa leve o espírito e acalma o coração.

Seguir em frente.

Sem medo.

E o tempo

Faz tempo que não escrevo. Não tenho tido tempo. Idéias tenho várias, todos os dias, faço rascunhos, rabiscos, tudo espalhado pelos meus cadernos. Falta-me tempo. Engraçado falar que falta tempo, quando tempo é algo abstrato. Na verdade, me faltam horas, pois ficou condicionado que o dia tem 24 horas. Se a convenção fosse outra, talvez me faltaria esse outro também.

Ficamos mais velhos, crescemos e amadurecemos. Temos a impressão que quanto mais o tempo passa, mais rápido passa esse tempo, mas que tempo? Se pensarmos melhor, não é esse tal de tempo que passa mais rápido, não é a vida que corre. Somos nós que mudamos e adquirimos maiores responsabilidades, mais coisas pra fazer. Nós que corremos, que estamos apressados. Quanto mais coisas fazemos, mais queremos fazer. Reclamamos que o dia tem 24 horas, que a semana tem 7 dias. Então eu penso "Ainda bem".

E se não existissem as horas? Se não existissem os dias, os meses? E se não tivéssemos como contar o tempo? Já imaginou como seria? Seriam férias eternas.

A grande preocupação do homem do século XXI é dar conta das milhões de coisas que tem que fazer. As pessoas obrigam-se cada vez mais a compromissos e não tem mais tempo para si. Esbanjar a frase "Não tenho tempo" virou qualidade. Todo mundo quer não ter tempo para algo. Enchem-se de compromissos e coisas para realizar, não são mais donas de suas vidas e sim, escravas do tempo. Ou da falta dele.

Desacelerar parece algo que não existe nessa vida corrida. Por vezes, quando sento e fico vendo televisão, sinto-me culpada. Deveria estar fazendo alguma coisa, não deveria? Deveria estar lendo, trabalhando, produzindo e não parada, simplesmente olhando televisão pra desocupar a mente. Não é mesmo? Não é?

Não. O tempo que temos deve ser nosso aliado e não nosso senhor. O tempo, essa entidade abstrata que rege e governa nossa vida de tal forma, deve ser colocado no lugar dele. Ele lá e nós aqui, vivendo. Se o tempo passa rápido, logo estaremos velhos e cansados. Nosso espírito envelhece mais rápido que nosso corpo. 

E não há tempo para se perder. Então, vamos descansar.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

E no fim, tudo é pó.

Existem momentos que o olhar precede a fala. Que apenas um toque diz tudo aquilo que você precisa saber.
Existem momentos que chorar é preciso, e que o silêncio se faz presente.
Existem momentos que precisamos orar, e acreditar que Deus existe, e que ele olha por nós.
Existem momentos que o melhor é ficar quieto, pensando e sofrendo na solidão, mas existem outros momentos que é preciso abraçar quem precisa e dar o ombro para outro chorar.
Existem momentos que nos perguntamos, o que há com a vida? O que fazer dela? Como reagir diante daquilo que o destino nos apresenta?

Eis aqui nada mais que um desabafo de alguém que se depara com a finitude da vida. Por mais que eu saiba que somos seres finitos, o fato de não saber até quando me apavora. Mais ainda que perceber minha própria finitude, me apavora o sentimento de perda de alguém que fez parte da minha vida. A finitude do outro, para mim, é muito mais dolorosa que a minha própria.

Não me perco em questões como "Pra onde vamos? O que será de nós?". Não! Não é isso que busco. E sim, o que será de mim e dos outros quando esse alguém não estiver mais entre nós? Alguém que viveu comigo desde que nasci, que me viu crescer, que me batizou. Como encarar a vida sem esta pessoa? É este fato, em particular, que me intriga.

Talvez seja simplesmente o fato de que, até hoje, aos meus 24 anos, nunca tenha tido uma perda significativa em minha vida. Não tive mesmo. Nenhuma pessoa tão próxima a mim morreu. Meu avô, pessoa na qual me refiro, ainda não morreu. Mas está no hospital. Se sobreviver, ficará com sequelas. Mas é justamente vendo-o nesta situação, que não consigo imaginar nossa família sem ele.

Somos seres finitos. E ponto. E deu. E basta. Somos matéria, que morre a cada dia, e achamos que sabemos alguma coisa pelo simples fato de que pensamos e nos metemos a besta a dar explicações sobre alguma coisa que não conhecemos e que não entendemos. Somos onipotentes, nos vemos como deuses, detendores de nosso destino. Quando na verdade, somos apenas humanos, seres mortais, buscando explicações que nos confortem diante daquilo que mais tememos, o fim de nossa existência. Inventamos uma coisa chamada "livre arbítrio" para nos enganarmos diante de nossa condição, mas aquilo chamado destino sempre bate de frente em nossa vida, quando menos esperamos.

De nada sabemos, e no fim, tudo é pó.


terça-feira, 28 de junho de 2011

O frio não existe

Lembro quando estava no colégio meu professor falava que “o frio não existe, meus caros, o que existe é ausência de calor”. Lembro também de pessoas que dizem que o frio é psicológico. Pois bem, cá estou aqui me perguntando “será mesmo?”

O fato do frio não existir como condição física e sim a falta de calor pode ser uma explicação plausível para os físicos, químicos e demais que se bastam com explicações meramente mecânicas do corpo e do meio; a origem do frio ser psicológica acredito que dependa do estado mental daquele indivíduo que em graus pouco elevados de temperatura não sente o frio da mesma forma que a média dos demais habitantes do planeta, ou talvez seja somente uma questão de hábito, de se acostumar ao frio e não senti-lo mais, ou com tanta intensidade. Todas essas explicações não me deixam satisfeita, pois o inverno em Porto Alegre este ano está sendo bastante rigoroso, e ainda estamos no mês de junho. Eu sinto frio e esta sensação não me agrada nem um pouco.

Conheço pessoas que adoram o inverno, mas eu, particularmente odeio. As pessoas se apegam a detalhes que são construídos socialmente com o frio, dando ao inverno – para mim a pior estação do ano – um ar romântico e por vezes bucólico. Me dizem: no inverno as pessoas ficam mais bonitas, pois se vestem melhor, tomamos vinho, chimarrão, comemos pinhão. E tem a velha frase “Nada melhor que dormir agarradinho nesse frio” e blá-blá-blá-wiskas-sachê, “com esse frio, ficamos mais unidos para transmitirmos calor humano”. Ah! A velha hipocrisia humana.

Pessoas estas se omitem de coisas que minha natureza não consegue calar. Com o frio, diversas pessoas passam frio, pois o sentem. Pessoas que moram em condições subumanas sentem o frio na pele e todas as conseqüências adicionais que geram em suas vidas, elas recebem o pacote completo do inverno. Hospitais ficam lotados por doenças e inflamações decorrentes do frio, crianças com problemas respiratórios que todos os anos retornam as emergências hospitalares em busca de cuidados, idosos que não conseguem muitas vezes sair da cama pela má circulação de sangue devido ao frio. Moradores de rua que lotam os abrigos em busca de um lugar para poderem dormir em segurança e longe do vento, da chuva e do frio cortante.

Muitos vão rebater esses argumentos dizendo que a culpa é do governo por não cuidar dos pobres e que os moradores de rua são viciados e bêbados e mais uma enxurrada de blá-blá-blá-wiskas-sachê. Concordo que os órgãos públicos devem olhar para essas pessoas de forma especial no inverno, mas não fazem. Quanto aos moradores de rua, é um ciclo vicioso. Moram na rua, no frio, e para espantar o frio bebem ou se drogam, fortalecendo cada vez mais seu vício, neste sentido, não vão para abrigos, pois lá não podem consumir álcool nem drogas, então, continuam na rua.

Não se vê ainda no Brasil os vícios como questão de saúde pública, quando na verdade são. No Brasil não se leva a sério questões realmente importante: viciados e alcoólatras são seres humanos e como tais devem ser vistos por todos como seres humanos e não somente taxados como isso ou aquilo. Me parece que uma pessoa perde seu valor humano quando entra para um grupo que já está posto como marginalizado em nossa sociedade. Existe um véu que dificulta enxergamos que aquele cara que está debaixo da ponte com sua garrafa na mão, dormindo em um papelão é na verdade tão humano quanto eu, o que nos diferencia é que ele perdeu sua dignidade por conta de suas condições de sobrevivência.

Para os demais, na verdade o inverno é realmente muito bom, com seus vinhos, casas quentes, aconchegos e cobertores de orelha. O frio deve ser mesmo psicológico ou apenas falta de calor, eu que não me adaptei ainda ao blá-blá-blá-wiskas-sachê.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O mundo das idéias

Platão era um grego, discípulo de Sócrates, que colocou problemas até hoje discutidos na filosofia. Viajou muito, teve contato com diferentes linhas filosóficas que influenciaram seu pensamento e que estão presentes ao longo de sua obra. Mas até aqui, nada de novo. Essas informações você com certeza encontrará no Google.

O que mais me chama a atenção no pensamento de Platão, e venho me dedicando ultimamente a isso, é o que chama-se mundo das ideias. Para Platão existe o mundo físico, material, este que nós vivemos, e o mundo real, o mundo das ideias. Este mundo no qual vivemos é apenas uma cópia do mundo intelectual (das ideias), ou seja, vivemos uma representação do real, pois o perfeito não está aqui. Tudo o que está no mundo é falso, as coisas materiais são reflexos das ideias, pois são somente elas que, de fato, existem. Estabelecemos aqui então, que existem dois mundos: o físico e o ideal.

O mundo físico é composto por coisas materiais, coisas que são perceptíveis aos nossos sentidos. Segundo Platão, nossos sentidos não nos levam ao conhecimento verdadeiro, pois eles são enganadores, nos dão a sensação de realidade, que na verdade não existe. O corpo é limitado, é sensitivo. Não é através deste nosso corpo que chegaremos à verdade.

O mundo das ideias, ou mundo ideal, ou mundo inteligível é o mundo perfeito, real. É nele que se encontram as almas e a realidade de fato. Neste ponto, percebemos que Platão coloca o dualismo corpo-alma. Existe um corpo e existe uma alma. A alma habita o corpo no mundo físico e esta alma é livre no mundo inteligível.

Esse mundo das ideias existe. Neste mundo as almas contemplam o real, o belo e o verdadeiro. Mas então pra quê vivemos em corpo? Para Platão, como já disse anteriormente, as almas habitam os corpos para que cumpram um castigo e depois retornem ao mundo ideal, pois segundo ele, as almas são eternas e imortais. Quando caem no mundo físico, ou seja, encarnam, elas esquecem do mundo das ideias, da realidade verdadeira. O filósofo então tem o ofício de fazer com que essa alma, encarnada em corpo, relembre o seu mundo ideal e viva da melhor forma, esperando a morte para que possa retornar ao mundo verdadeiro.

Não pense que Platão está dizendo que a vida de nada vale, visto que este mundo é falso e que o corpo é um cárcere, essas coisas. Na verdade, é mais profundo que isso. Ele está dizendo que existe algo melhor do que este mundo que vivemos e que estamos habitando esses corpos apenas temporariamente. O corpo é uma passagem, a alma é eterna.

Diante disso, eu, enquanto pessoa que habito um corpo, que penso, estudo e pretendo ser melhor amanhã do que sou hoje, descubro que um carinha lá há milhões de séculos antes de Cristo me diz que existe algo melhor depois da morte, uma coisa meio espírita e bem cristã para os dias de hoje me pergunto: Qual o sentido da vida?

Para Platão o sentido da vida é o exercício filosófico, que faz com que o homem se liberte das sensações produzidas pelo corpo através dos sentidos, visando uma vida mais plena, aproximando-se das verdades que somente o intelecto pode oferecer. Mas e para mim, eu essa pessoa de carne e osso que acredito nessa realidade que me cerca, qual o sentido da vida?

Sem tirar os créditos de Platão, tenho que discordar dele. É muito cômodo pensar que existe uma “vida depois da morte”, ou então que não seja vida, mas que seja alguma existência. Se isso for verdade, a vida não tem sentido para mim. Sou e espero sempre ser uma pessoa mutante. Acredito que as coisas estão em constante fluxo e mudando a todo o momento. Acredito que nossa capacidade intelectual nos permite ir sempre além a cada instante e que mudar é sempre algo positivo. Vejo a mudança como um acréscimo. A cada mudança, uma gota dentro do copo.

Não me permito o dogmatismo e me entrego às mudanças. Acredito nas sensações, mas também me dedico ao intelecto. Se vivermos esperando o amanhã, o que então será do hoje? A nossa existência é agora, e não o mundo das ideias, da realidade verdadeira que iremos conhecer quando nos libertarmos desse corpo que nos prende. A realidade que vivo, que presencio, é verdadeira. Pode ser que não seja a verdade plena como a de Platão, mas também de que serve ter a verdade absoluta das coisas se é muito melhor entregar-se a doce loucura de viver a cada dia?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Filosoficamente

O homem é um ser dotado de cultura. Quando nasce já está inserido em um contexto cultural e normativo que vai moldando seu comportamento, através das normas culturais. Este homem cresce acreditando que essas normas, já internalizadas, são de fato a verdade sobre o seu mundo, sem fazer a si mesmo maiores questionamentos. Assume diante do mundo uma postura dogmática.

Em algum momento de sua vida esse homem inicia um processo de questionamentos sobre aquele mundo. Ele busca algo mais que lhe é oferecido, mas acaba deparando-se com uma série de reflexões que estão muito além do seu intelecto, questões nas quais sua cultura não dá conta de responder. Ele rompe com sua postura dogmática e percebe-se ignorante, pois o mundo que para ele foi posto é na verdade uma representação de mundo, construída social e culturalmente.

O homem, percebendo-se ignorante, não pode mais assumir novamente seu comportamento dogmático e experiencia a negação daquilo que lhe é posto como verdade. Porém, todas essas “verdades” nada mais são do que normas em que não há uma reflexão, nem uma postura crítica acerca desse mundo.

Assumindo, então, um comportamento reflexivo, característico da postura filosófica, este homem inicia uma série de apontamentos, nos mais diferentes níveis como uma maneira de buscar uma explicação plausível sobre essa natureza do mundo. As representações não fazem mais sentido e, diante disso, o homem afirma-se no mundo através de uma postura intelectual ativa, questionando-se sobre o ser, o conhecer e o saber, não mais vivendo no dogmatismo e sim colocando-se filosoficamente no mundo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Você é ou você está?

O corpo humano sofre constantes transformações ao longo de sua vida. Nascemos, crescemos, nos desenvolvemos, nosso corpo se transforma com o passar dos anos, numa imensa jornada de constantes mudanças. Por vezes imperceptíveis, outras vezes como uma explosão. Mudamos nosso corpo todos os dias, a cada minuto. Nossas células estão sempre em movimento, sem parar, incessantemente, como agora, neste exato instante, e no que acabou de passar, e também no seguinte, assim por diante, eternamente.

A mudança corpórea é apenas um tipo de mudança humana. É a mudança visível. Como um produto em que se muda a embalagem. Mas há também a mudança de consciência, a mudança pelo conhecimento. No caso, a qualificação do produto.

Se alguém lhe perguntar “Quem é você?”, logo você responderá “Eu sou o Fulano.” Mas Fulano, vamos pensar melhor, quem é você mesmo? Quem sou eu? Quem és tu? Nós somos alguém ou nós estamos alguém?

Que o nosso corpo muda isso é fato. Mas nós, enquanto pessoas, também mudamos, em uma velocidade tão rápida quanto as células de nosso corpo que trabalham incessantemente. No momento em que conhecemos alguma coisa, que apreendemos algum conhecimento¹, já não somos mais os mesmos. E não poderemos mais voltar a ser aquilo que éramos antes de ter aquele determinado conhecimento. É impossível. Não podemos voltar ao passado, nem negar que ele aconteceu.

O ser humano é movido pela curiosidade, e é esta curiosidade que o faz estar sempre em constante mudança intelectual. Heráclito diz que um mesmo homem não pode banhar-se duas vezes no mesmo rio. Na primeira vez ele é um homem e aquele é um rio. Na segunda vez, as águas que corriam ali já não correm mais, são novas águas, e o homem, por já ter vivido a experiência de banhar-se no rio, aprecia a segunda vez de outra forma, é uma nova experiência, apesar de parecer ser a mesma.

A cada dia que acordamos, vivenciamos uma nova experiência, mesmo que façamos as mesmas coisas, de forma rotineira. Nenhum dia é igual ao outro, da mesma forma, nunca somos a mesma pessoa ao acordar em um novo dia. Nossa essência pode continuar a mesma, mas nossas qualidades estarão modificadas. As grandes mudanças por vezes levam anos de sucessivas pequenas mudanças.

É difícil definirmos quem somos, pois na verdade sempre estamos. Faça um exercício, escreva a cada mês em uma folha quem você é e guarde. Após um ano, leia.

Hoje eu estou, mas você é ou você está?



Nota:
¹ Utilizo o termo conhecimento de uma maneira abrangente, sendo conhecimento como qualquer tipo de aprendizado ou informação que recebemos e experiências vividas.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Lucy e seu cão

Lucy andava pela rua em um dia frio de inverno quando viu o cãozinho na rua. Não resistiu e o pegou. Na época não gostava muito de animais, mas o cão era tão pequeno, peludo e muito alegre que ela decidiu levar para casa e cuidar do animal.

Todos os dias, quando Lucy chegava em casa o cãozinho fazia muita festa, lambia seu rosto e ficava fazendo gracinhas. Certo dia, brincando com seu cão, Lucy percebeu que o amava.

Com o passar dos meses, o cãozinho tornou-se um cachorrão, grande, forte e muito bagunceiro, mas Lucy o amava tanto que ria das travessuras de seu cão.

O que Lucy não esperava era que a senhora Margoth, uma velha solitária que vivia ao lado começasse a reclamar do cão. A senhora Margoth era muito carrancuda e mal-humorada. Reclamava do cão todos os dias quando Lucy chegava em casa, que ele fazia xixi em seu portão, que comia suas plantas, que cavava terra e latia demais.

Lucy foi ficando triste, pois amava seu cão, sabia que ele fazia travessuras, mas isso não a deixava brava. Os outros vizinhos não reclamavam, pois também tinham cães e sabiam como eles são ativos e brincalhões. Mas a senhora Margoth, velha e rabugenta, não tinha cães, nem gatos, nem passarinhos. Lucy acreditava que nem os ratos de porão faziam companhia a velha, tamanha a sua amargura.

Por momentos Lucy se perguntou se amava demais seu cão ao ponto de não conseguir enxergar que talvez ele realmente fosse um problema, e isso só aumentava sua tristeza. Com o passar dos dias, a senhora Margoth incomodava cada vez mais, cada dia com uma reclamação nova, na tentativa, talvez, de fazer Lucy levar o cão embora. Porém isso nunca passou pela cabeça de Lucy.
"São nossos anjos, sem ter asas."

Lucy amava o cão, isso era fato. Era amor, com certeza. Amor de verdade. Coisa que talvez a senhora Margoth nunca tivesse sentido em sua vida, por isso invejava a felicidade de Lucy com seu cão. Uma felicidade simples, verdadeira e plena. Quantas risadas e alegrias Lucy tinha desde que seu cão chegara! Era um companheiro fiel que sempre estava perto dela, que não a abandonaria, portanto, ela não poderia fazer o mesmo. Lucy não compreendia como a senhora Margoth não enxergava isso. Mas se o que ela sentia era mesmo amor, por quê não haveria de ser verdadeiro? Se um ser humano consegue, com tamanha pureza amar um animal, poderia sim, amar ao próximo. Foi então que Lucy percebeu o motivo da senhora Margoth ser tão rabugenta: ela não amava ninguém, talvez nem a si própria.

Lucy estava muito infeliz então tomou uma decisão radical, pegou suas coisas e foi-se embora, antes que a amargura da vizinha lhe contaminasse. Foi embora dali, e iria embora de qualquer outro lugar em que houvessem senhoras Margoths por perto, reclamando de seu cão.

Felicidade atrai felicidade. Tristeza atrai solidão. Felizes nós, com nossos cães.



[Notas.]
1. Qualquer semelhança não é mera coincidência;
2. Foto em homenagem ao meu cachorro Luke, que eu amo de paixão.

E você, quer mais?

Quem não quer mais: mais dinheiro, mais felicidade, mais amigos, mais sucesso. Mais, mais, muito mais. Então vamos buscar mais.

Imagine um mundo todo mais. As pessoas seriam mais felizes. Mais felizes elas trabalhariam mais. Trabalhando mais, ganhariam mais. Ganhando mais, gastariam mais. Viveriam mais. Sorririam mais. Teriam mais amigos. E quem sabe até mais tempo.

Saindo desse mundo imaginário, quase perfeito, podemos querer mais hoje? Sim, muitos responderiam. Todos queremos mais. Quem tem pouco quer sempre mais. Quem tem alguma coisa, quer ter muito mais. Quem tem muito também quer mais. Que ótimo se todos buscássemos mais. Não seria bom?

Sim e não. Sim, porque o mais é sempre ligado a coisas boas. Mas nem sempre. Neste sentido, não, não podemos querer mais. Seria bom mais violência, mais corrupção, mais roubos, mais assaltos, mais pobreza, mais, mais e mais? Mais pra quê? Mais por quê?

Nos acostumamos a generalizar as coisas e não a pensar sobre elas. Todo o positivo tem seu negativo. E viver nos extremos nunca é bom. Eu prefiro sempre o melhor, e não o mais. O melhor emprego, os melhores amigos, as melhores risadas, as melhores companhias, o melhor amor. Em um plano mais abrangente e não tão egocêntrico, escolho as melhores condições de trabalho e de vida, em alguns casos, melhores condições de sobrevivência. Melhor segurança, melhor educação. Pra quê mais, se podemos buscar o melhor? Melhores políticos, melhores governantes. Melhores cidadãos, melhores pessoas, melhor país. Um mundo melhor.

Se você esfregasse uma garrafa e de dentro dela saísse um gênio que lhe concederia um único pedido, você escolheria mais ou melhor?

Comece a imaginar...

Pensar dói

Esses dias em aula falávamos que pensar dói. Filósofos desde a época “antes de Cristo” acreditavam que a reflexão dava-se através de um processo intelectual doloroso. E eu tenho que concordar com eles.

Se não doesse, não viveríamos na “Era da Informação”, como muitos enchem a boca para falar desse assunto como se fosse grande coisa. Pois não é. Por que não poderíamos encher a boca e mostrar todos os dentes pra falar que vivemos na “Era do Conhecimento”?

 A diferença entre conhecimento e informação parece sutil aos olhos de muitos, mas é realmente grande quando adicionamos à discussão o quesito profundidade. Informação não requer profundidade. Conhecimento sim, requer tempo, disponibilidade e querer. Estaria eu sendo louca se não desse os devidos créditos a informação. E dou. É realmente ótimo ligar a televisão e ver que do outro lado do mundo ocorrem guerras ou desastres naturais. Acompanhar ao vivo pela internet o julgamento de um caso que obteve repercussão nacional. Realmente é muito bom se sentir informado.

Mas não há, em meio a essa enxurrada de informações, o desenvolvimento de uma reflexão crítica. Não nos perguntamos porque isso acontece, porque os seres humanos fazem guerras e destróem o nosso meio ambiente. Queremos saber e não nos importar.

E aqueles poucos que se importam são chamados de idealistas por aqueles (conformistas) que acham que “o mundo é assim mesmo”. Outros acham que isso é uma fase, que o mundo é um ciclo, que daqui a pouco tudo melhora.

Tolos eles, pois se enganam. Nós, os idealistas, percebemos que o mundo não funciona em ciclos e sim como um buraco que estamos afundando cada vez mais, com informações esmagando nossas cabeças, não nos deixando respirar e olhar um pouco mais longe. O horizonte é logo ali, mas há uma nuvem densa que nos impede de enxergar. A informação esmaga e sufoca, não permite o pensar. Mas, “pra que pensar?”, perguntam as massas informadas.

Sinceramente, ainda não sei. Possivelmente pensar leva a crítica e perceber que o mundo está na contramão dói.

Por isso meus caros, para aqueles que sofrem, é melhor sempre manter-se informados. Pois digo a vocês, pensar dói. E muito. 

Palavras que saem sem pensar

Há tempos que penso em fazer um blog, mas pensava “Fazer por quê? O que eu tenho de tão importante para que as pessoas leiam?”. Bom, depois de muito refletir, sinceramente, acho que não tenho nada a acrescentar. Mas não posso me libertar da idéia de que tenho algo a contribuir para o mundo. Sou até bem ideológica para determinadas coisas e acredito sim que todos vivemos para dar uma contribuição. Todos. Mesmo aquelas pessoas que não pensam em grandes realizações, as coisas pequenas são importantes. Em alguns casos, as mais importantes.

Enfim, o que falar em um blog? Aquilo que sinto, aquilo que penso, aquilo que sou?

Pois é, mas eu não sei me definir, e nem acho que devo. As pessoas quando se definem se limitam, pois não enxergam que nós mudamos. Créditos totais a Raul Seixas “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”. Amadurecemos, estamos sempre em constante mudança, de pensamentos, de hábitos, de tudo. Amamos, odiamos, abraçamos, choramos, sorrimos, rimos. Acredito que esta seja a verdadeira essência do ser humano: a mudança.

Que graça teria se nós não mudássemos? Se não acrescentássemos coisas e experiências em nossas vidas?