segunda-feira, 30 de março de 2015

Aborto: legalize já!

O aborto deve ser legalizado. E já! A proibição dessa prática é só mais uma das milhares de ferramentas que o Estado utiliza para corroborar o machismo em nossa sociedade. As estatísticas das taxas de mortalidade não convencem, a fragilidade de uma gestação não desejada não convence, os argumentos contra a Igreja não convencem. O que convenceria, então?

Acredito que a voz das mulheres. A nossa voz. Precisamos falar sobre isso. Pois, o que está em jogo, acima de tudo, é uma vontade. Uma vontade que não está nas estatísticas, uma vontade que não está no outro, uma vontade que está em mim, em ti, em cada uma de nós, que não pode ser mensurada, nem vivida por outro. Essa vontade é extremamente íntima e particular e não deve ser coibida por nenhum legislador. 

É direito meu e de qualquer pessoa fazer o que quiser com seu próprio corpo, certo? Então, por que proibir o aborto? Por que fazer com que uma mulher tenha um filho que não deseja? Por que não dar a ela, a nós, a liberdade plena de nossas escolhas?

É claro, você poderá citar todos aqueles argumentos clássicos, tais como, "por que ela não se preveniu?", ou então "ela seria uma assassina, pois é uma vida ali", e outros mais que não respeitam a única pessoa interessada: a gestante.

Por que uma mulher não se previne? Ora, ela deve fazer isso sozinha? Por que o homem que transou com ela também não se preveniu? A camisinha, por exemplo, além de um excelente método contraceptivo, previne ainda contra DSTs, sabia? E o anticoncepcional? Por que ela não toma aquela bendita pílula?

Nossa sociedade acostumou-se a colocar sob responsabilidade da mulher a prevenção e cuidados nas relações sexuais, o uso ou não de camisinha, tomar ou não a pílula. Nos acostumamos a julgar as mulheres desprevenidas e descuidadas, não olhando para o parceiro dela.

Por que uma mulher deve matar aquele ser humano que está gerando? Isso a torna uma assassina? Ela não se importa com a vida? Por que ela não gera essa criança e depois dá para a adoção?

Primeiramente, adotar uma criança é um gesto lindo. Porém, basta olharmos com maior cuidado e buscarmos informações que iremos perceber que é extremamente burocrático no Brasil. Além disso, existem muitas crianças que não conseguem ser adotadas, pois já são "grandinhas" (leia-se "não são bebês"), que vivem uma vida inteira em orfanatos aguardando um lar e acolhimento, que nunca chegam. É certo colocar crianças nessas condições? Não.

Em segundo lugar, por que uma mulher que aborta seria uma assassina? Por que ela estaria matando um ser humano? Você já se informou direito sobre isso? E mais, por que essa mulher se importaria com essa vida se ela não a quer? Por que essa mulher deve ver seu corpo sofrer transformações pelas quais ela não quer passar só para gerar essa criança? Existem mulheres que relatam a experiência da gestação como horrível e nada encantadora, como os comerciais de margarina nos vendem. 

Ainda assim, defender o aborto não significa não defender a vida. Significa defender o meu corpo, a minha vontade e a minha escolha, a minha vida. Toda mulher tem o direito de delegar sobre si mesma, de decidir o que é melhor para si, incluindo o de ter ou não um filho.

A legalização do aborto não implica em aumentos estatísticos de mulheres abortando. Implica em dar condições sanitárias e humanas para que as mulheres possam realizar esse procedimento com segurança, sem correr riscos de contrair infecções. Significa dar voz àquelas mulheres marginalizadas por suas escolhas. Significa olhar para mulher, dar escolha, autonomia e respeito ao corpo.

Não somos obrigadas a ser mães, não somos obrigadas a ouvir é indigno abortar, não somos obrigadas a ter uma gestação indesejada, não somos obrigadas a viver aquilo que não queremos.

sexta-feira, 13 de março de 2015

A massificação da crítica

Dia 15 não vou pra rua. Até poderia, mas não vou. E isso não significa que eu esteja satisfeita com o governo do PT, nem significa que sou a favor da corrupção, nem significa que eu esteja vivendo bem, nem significa que estou pagando as contas e que acho justo aquilo que pago de impostos. Também não significa que sou petralha, que quero viver em Cuba ou na Bolívia ou na Venezuela. Não mesmo. 

Me permito criticar em quem votei e em quem não votei. Não sou partidária, mas sou política. Sou de esquerda, mas não sou petista. Ser de esquerda é muito maior que um partido. É seguir um modo de ver e viver a vida que não seja voltada para a economia, para o livre mercado. É alguém que pensa, vê e vive o mundo de forma mais humana, mais justa, mais social. Que quer políticas públicas que garantam o respeito e a dignidade da sociedade.

Dito isso, eu realmente penso que nosso país vai mal. Muito mal. As coisas estão todas erradas. Tá foda viver. Tá foda trabalhar oito horas por dia e ver o salário não servir para muita coisa. Vemos os preços de tudo aumentar, a conta de luz subir 50%, a passagem de ônibus ficar absurdamente alta, o governo cortar gastos com educação e não termos aumento de salário nem ganho real.

O brasileiro perdeu poder de compra. Não conseguimos consumir. Mal compramos o básico, os aumentos são absurdos. A economia vai mal, o país não cresce. Junto a tudo isso, os esquemas de corrupção, os roubos, os desvios de milhões e, o pior, a impunidade. Cresce a nossa indignação e aquela vontade de fazer justiça. Cenário perfeito para aparecerem os manifestantes e suas manifestações.

Eu não sou PT, não sou pró-Dilma, mas também não acho que um impeachment vai resolver os problemas do Brasil. Somos minimamente politizados e ainda reproduzimos velhos discursos. Todos criticam, todos discordam, todos têm uma opinião. Todos vão as ruas, todos gritam, todos pedem. Há autonomia. Mas a autonomia não é autônoma. Há voz nas ruas. Mas essa voz só repete. Essa voz não pensa. Essa voz está massificada. Essa voz virou uma esponja que absorve discursos raivosos e o reproduz. Reproduz sem pensar, sem julgamento, sem crítica. É por isso que há raiva.

Não sou contra manifestações. É um direito nosso. Mas os caminhos que rumam e marcham os raivosos vão de encontro a tudo que acredito. Utilizam-se da liberdade para manifestar-se pedindo para não mais tê-la. É ambíguo.  É contraditório. É um discurso crítico sem a crítica, sem profundidade.

As coisas estão ruins? Sim. Mas vamos pensar (um pouco) antes de agir. Se vamos para as ruas, vamos saber o que pedir. Não marchem pelo retrocesso. Marchem por avanços, por melhorias, por justiça, pelo fim da impunidade. Manifestem-se para que a nossa presidenta faça um bom governo, não para que ela saia. Pode vir alguém pior. Muito pior. E sempre pode piorar.