quinta-feira, 2 de julho de 2015

Aguardando a próxima

Estamos acostumados, em nosso país, a atacar os problemas e não as causas. Isso é histórico, mas é possível mudar. Quando estamos realmente motivados, indignados, saímos às ruas e protestamos, manifestamos, mostramos nossa voz. O problema é que só saímos pra rua quando somos motivados por forças externas, com intenções além. Então, não temos voz, somos papagaios. Somente reproduzimos discursos.

Somos constantemente bombardeados com notícias e comentários sobre a situação do país. A mídia tem o péssimo costume de colocar pessoas contra pessoas. Coloca os grevistas contra a população, recorta as informações, cria manchetes de meias frases. E caímos nessa. Infelizmente. 

Nossa educação não é boa o suficiente para que possamos pensar fora da caixa. Nossa pátria educadora não nos educa. Nossos políticos governam em interesse próprio. Nós nos calamos. Culpamos uma pessoa, por um contexto que é geral. Falamos em corrupção como se fôssemos incorruptíveis. Nos tornamos escravos de nossa própria ignorância.


A Câmara dos Deputados rejeitou e aprovou a mesma proposta de redução da maioridade penal em menos de 24 horas. Eu, por exemplo, não conseguiria fazer minha mãe mudar de ideia em tão pouco tempo. Mas mãe é mãe e política é... enfim. Está aprovada a redução da maioridade penal. Lamentável, lastimável. 


O que torna este cenário mais triste é ver que as pessoas concordam com isso. Estamos tão cansados de pensar, de levar as coisas a sério, que aceitamos qualquer argumento que seja egoísta. Pois sim, reduzir a maioridade penal é um ato egoísta. É pensar em si e não na sociedade como um todo. É, como sempre, atacar a consequência de um problema muito maior e muito anterior. E quem faz política sabe disso, pois foi eleito por isso. Quem faz política sabe falar, tem o domínio do discurso. Fala com clareza e parece ter sempre razão. Usa situações cotidianas, que todos vivemos, maximiza aquilo ao absurdo e te seduz. Pronto, você já está acreditando em tudo o que te falam sem questionar.

O que não se fala é que reduzir a maioridade penal abre precedentes para que se reduza novamente. Menores de idade são usados para cometer crimes, pois não recebem uma pena e sim uma punição sócio-educativa. Isso, infelizmente, não vai mudar. Apenas estamos sinalizando aos criminosos que agora eles terão que usar menores de 16 anos para isso.

O que não se fala é que reduzir a maioridade penal não vai reduzir a violência. O que não se fala é que reduzir a maioridade penal só vai aumentar a população carcerária do país. Vai aumentar os custos do Estado com apenados. Não vai acabar com a pobreza, com a miséria, com os problemas de educação. Não vai diminuir os problemas estruturais sócio-econômicos brasileiros. Você não vai sair à noite sentindo-se seguro. Sua sensação de insegurança não vai diminuir. Talvez aumente. Pois aquele menino de 12 anos, vindo em sua direção não é só mais um menino de 12 anos vindo em sua direção. Ele é o novo menino de 16 anos. 

Nosso país não possui uma política penal eficiente. Aliás, nem sabemos o que é isso. Não sabemos para que serve uma penitenciária, uma casa de detenção, uma delegacia. Não sabemos nada, mas queremos opinar em tudo. Achamos muito certo que um adolescente de 16 anos seja julgado como maior de idade, pois "ele sabia o que estava fazendo". Sim, sabia. Mas e daí? Vamos jogá-lo numa cela com mais 20 pessoas para ele sair dali pior? Você realmente acredita que farão presídios especiais para jovens de 16 a 18 anos? Sério mesmo? (muitos risos) ... (gargalhadas).

Aguardando a próxima redução de maioridade penal.