Existem
muitas coisas que eu não entendo. Talvez pela minha ignorância, desconhecimento
ou simplesmente pela minha total falta de interesse. Até ai, tudo tranquilo,
pois, acredito eu, que sejamos todos assim. O que me inquieta é conhecer ou
crer em algo e, ainda assim, me restarem dúvidas e questionamentos sobre isso. Então,
me diriam os que se identificam com a filosofia, que é assim mesmo, que este é o
exercício do filosofar. Questionar, pensar, duvidar, formular e reformular. Um caminho
contínuo em busca que algo, que talvez, nunca conseguiremos entender,
compreender nem chegar ao sentido. E isso, segundo Aristóteles, é o movimento
que interessa, o caminho que se percorre é muito mais rico do que a conclusão a
qual se chega. Quando se chega a alguma conclusão!
Isso
pode parecer até estranho para alguns, mas esse movimento constante do
filosofar as vezes me incomoda. Admito que o questionar, o buscar, o formular e
reformular me fascinam na filosofia, mas isso também me cansa. Essa constante
busca por algo que não entendemos ou pouco conhecemos nos leva a indagações, a
novos problemas e se por um lado a consequência disso é o enriquecimento
filosófico, por outro, qualquer argumento pode ser desconstruído e, no fim, não
teremos certezas sobre nada, talvez, nem sobre nós mesmos.
De
certa forma, isso é instigante e estimulante. Participar do debate filosófico,
olhar as coisas de outro ponto de vista acrescenta naquilo que está sendo
discutido e não vejo outra forma de se fazer filosofia. Porém, é como nadar,
nadar e não sair do mar. Vislumbramos o horizonte imenso, mas em alto mar não
há nada sob nossos pés, estamos somente cercados por água. Vemos diferentes
cardumes, os mais diferentes animais marinhos, podemos descrevê-los, falar
sobre eles, pensar sua forma de existência, a maneira como conhecem, se são
seres éticos, etc., podemos, inclusive, mergulhar um pouco mais fundo e ver o
que há mais para baixo, mas lá não poderemos permanecer por muito tempo, pois
necessitamos subir para encher nossos pulmões de ar. E quando subimos
novamente, vislumbramos mais uma vez o horizonte imenso, percebemos que estamos
cercados de água e que não há nada que nos sustente sob nossos pés. Para onde
vamos nadar? Isso não importa, pois para qualquer lugar que formos, será mais
do mesmo, somente apresentado aos nossos olhos de outra maneira. Agiremos da
mesma forma, mergulharemos mais fundo, mas teremos que voltar para a superfície
e nos deparar com a imensidão do horizonte e, novamente, nadar para qualquer
outro lugar.
Talvez
isso seja uma visão pessimista do processo de filosofar, mas prefiro pensar que
estou, neste exato momento, olhando para a imensidão do mar e nada vejo. Talvez
se eu mergulhar mais profundamente eu veja com mais clareza aquilo que busco. Talvez
eu me perca ali e não consiga voltar para preencher meus pulmões de ar. Talvez pensar
dessa forma não seja, então, tão pessimista assim, talvez eu esteja apenas
tentando apoiar meus pés em algo sólido. Talvez eu queira sair do mar e
encontrar terra firme. Mas talvez eu não saia do mar. Talvez a filosofia seja o
mar e sair dele seja deixar de filosofar. Sei que não vou encontrar respostas,
mas sim mais perguntas, mas me percebo hoje numa condição de alguém que busca
algo, mas que não sabe muito bem o que é esse algo. Talvez se eu ir mais fundo
e mais fundo, eu consiga encontrar algo de concreto para me apoiar, mas estarei
tão fundo, mas tão fundo, que será impossível para mim voltar a superfície para
respirar e vislumbrar novamente a imensidão.
Quanto
mais certezas criamos, mais fundo penetramos em verdades e mais dificilmente
abriremos mão delas. Se tivermos uma certeza, nos agarraremos a ela, fincaremos
nossos pés em algo sólido e, talvez, a partir dela criaremos mais certezas e
mais verdades. Estaremos nos fechando em algo, criando muros para o debate. Neste
sentido, o retorno à superfície não deixa morrer a filosofia, não deixamos de
pensar, de debater, de dialogar e de construir. Mas então, por quê essa falta
de solidez abaixo dos meus pés me incomoda tanto? Ainda não sei, mas antes
nadar, nadar e permanecer no mar, do que encontrar terra firme e não sair do
lugar.