sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Carta de amor: uma reflexão sobre a autoimagem na infância

Minha querida irmãzinha,

Hoje eu li uma reportagem sobre meninas de 7 anos que já se sentem pressionadas a terem a aparência perfeita e fiquei muito triste, porque acredito que crianças não devem se preocupar com sua aparência. Crianças devem brincar, fazer amigos, ir para a escola, jogar bola, ler, ver filmes e desenhos, essas coisas. As crianças devem fazer coisas felizes, legais e divertidas, ao lado de pessoas que as amem e que elas amem também.

Fiquei pensando em nossa conversa de ontem durante a janta, em que tu estava preocupada com teu peso, por isso não poderia comer muito. Sei que sou chata quanto te digo quase todos os dias que o peso não importa, o que importa é estar saudável e feliz. Sei que sou insuportável muitas vezes com esse meu discurso. Mas tu já tem 11 anos, é inteligente, linda e perfeita, já entende muitas coisas e uma dessas coisas que pode compreender é que magreza não traz felicidade, minha irmã. 

Quando te perguntei ontem de onde tu tinha tirado essa ideia de que estava 2kg acima do teu "peso ideal", tu me respondeu que não sabia. De fato, acredito mesmo que não saiba. Acredito que muitas meninas também não sabem porque devem emagrecer se já são magras. Acredito que muitas meninas não sabem porque devem alisar os cabelos, quando seus cachos são lindos. Acredito que muitas meninas não sabem porque não podem jogar bola e se sujar na rua como os meninos, por exemplo. De verdade, eu acredito, por que de fato, tu e essas outras meninas não sabem de onde vem isso.

Existe em nossa sociedade um ideal de beleza, que muda de tempos em tempos. Esse ideal de beleza, minha irmã, é construído para que as pessoas, desde a sua infância, sejam moldadas e adequadas àquilo que é socialmente aceito. Mas isso, na verdade, é só uma das formas de controle sobre o corpo. Mesmo sem que tu perceba, teu cérebro recebe diversas informações durante o dia dizendo que para ser feliz e realizada tu tem que ser magra, de cabelos lisos e compridos, de bunda empinada, vestir uma determinada roupa, se maquiar, se depilar, entre outras coisas. Sinto te dizer, mas isso é uma grande mentira! As pessoas realmente realizadas e felizes são aquelas que conseguem não dar bola para isso e fazer aquilo que amam.

Logo estará de aniversário e muitas coisas vão mudar de verdade na tua vida. Afinal, como tu mesmo me diz, com 12 anos tu já é pré-adolescente! E essa é uma fase muito boa da vida, que não precisa ser vivida o tempo todo pensando no peso, na roupa, no cabelo, etc. Espero que tu consiga te ver da mesma forma que nós que te amamos te vemos: linda, divertida, simpática, inteligente, amável, carinhosa e com um cabelão-juba-de-leão lindo, de causar inveja! 

Tu é única! E te amo assim e te amarei do jeito que for!
Um beijo.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Empodere uma menina que ela mudará o mundo

Dia das Meninas, o que falar? O que propor de novo ao pensamento que ainda não foi dito, redito, repetido e entoado milhares de vezes por milhões de vozes? O debate sobre gênero enche o saco, compreendo. Mas é justamente por este motivo, de incomodar os acomodados, que ele se faz tão necessário. Em tempos de polarização, de exacerbação de valores tradicionais e condutas patriarcais, entendo o "Dia das Meninas" como um momento para pararmos e pensarmos como estamos cuidando de nossas meninas. 

O que ainda não se percebe em nossa sociedade, e isso é uma pena, é que as conquistas direcionadas à equalização entre homens e mulheres repercutem em toda a sociedade, para mulheres e homens. Uma sociedade que acomoda as funções dos seus indivíduos conforme seus talentos e aptidões e não conforme o gênero, certamente é uma sociedade melhor, pois vê o indivíduo nas suas potencialidades e não naquilo que lhe é externo. Se uma pessoa possui um talento para gestão de dados, por exemplo, não importa se é homem ou mulher. Da mesma forma para dar aulas, dirigir, lavar uma louça e ou cuidar dos filhos. Ao conseguirmos romper com a barreira sexista, poderemos deixar livres todos os indivíduos para realizarem aquilo que desejam, independente do seu gênero. Este é um desafio e tanto. Uma longa caminhada que apenas começamos a trilhar.

Por onde começar? Sugiro pela educação e pela saúde. Assim, por consequência, acredito que estaremos também educando e cuidando dos meninos. Pois hoje os homens não são educados para lidar com mulheres empoderadas, ao passo que há um empoderamento feminino crescente. Empoderamento é um movimento, é uma ação. Foucault já afirmava que o poder é um exercício, que se dá em uma relação. Empoderar é, neste sentido, uma conquista, que deve ser exercida no dia a dia, em todas as relações, desde pequenas, desde meninas.

"Empodere uma menina que ela mudará o mundo" (ONU Mulheres).