quarta-feira, 27 de abril de 2011

Lucy e seu cão

Lucy andava pela rua em um dia frio de inverno quando viu o cãozinho na rua. Não resistiu e o pegou. Na época não gostava muito de animais, mas o cão era tão pequeno, peludo e muito alegre que ela decidiu levar para casa e cuidar do animal.

Todos os dias, quando Lucy chegava em casa o cãozinho fazia muita festa, lambia seu rosto e ficava fazendo gracinhas. Certo dia, brincando com seu cão, Lucy percebeu que o amava.

Com o passar dos meses, o cãozinho tornou-se um cachorrão, grande, forte e muito bagunceiro, mas Lucy o amava tanto que ria das travessuras de seu cão.

O que Lucy não esperava era que a senhora Margoth, uma velha solitária que vivia ao lado começasse a reclamar do cão. A senhora Margoth era muito carrancuda e mal-humorada. Reclamava do cão todos os dias quando Lucy chegava em casa, que ele fazia xixi em seu portão, que comia suas plantas, que cavava terra e latia demais.

Lucy foi ficando triste, pois amava seu cão, sabia que ele fazia travessuras, mas isso não a deixava brava. Os outros vizinhos não reclamavam, pois também tinham cães e sabiam como eles são ativos e brincalhões. Mas a senhora Margoth, velha e rabugenta, não tinha cães, nem gatos, nem passarinhos. Lucy acreditava que nem os ratos de porão faziam companhia a velha, tamanha a sua amargura.

Por momentos Lucy se perguntou se amava demais seu cão ao ponto de não conseguir enxergar que talvez ele realmente fosse um problema, e isso só aumentava sua tristeza. Com o passar dos dias, a senhora Margoth incomodava cada vez mais, cada dia com uma reclamação nova, na tentativa, talvez, de fazer Lucy levar o cão embora. Porém isso nunca passou pela cabeça de Lucy.
"São nossos anjos, sem ter asas."

Lucy amava o cão, isso era fato. Era amor, com certeza. Amor de verdade. Coisa que talvez a senhora Margoth nunca tivesse sentido em sua vida, por isso invejava a felicidade de Lucy com seu cão. Uma felicidade simples, verdadeira e plena. Quantas risadas e alegrias Lucy tinha desde que seu cão chegara! Era um companheiro fiel que sempre estava perto dela, que não a abandonaria, portanto, ela não poderia fazer o mesmo. Lucy não compreendia como a senhora Margoth não enxergava isso. Mas se o que ela sentia era mesmo amor, por quê não haveria de ser verdadeiro? Se um ser humano consegue, com tamanha pureza amar um animal, poderia sim, amar ao próximo. Foi então que Lucy percebeu o motivo da senhora Margoth ser tão rabugenta: ela não amava ninguém, talvez nem a si própria.

Lucy estava muito infeliz então tomou uma decisão radical, pegou suas coisas e foi-se embora, antes que a amargura da vizinha lhe contaminasse. Foi embora dali, e iria embora de qualquer outro lugar em que houvessem senhoras Margoths por perto, reclamando de seu cão.

Felicidade atrai felicidade. Tristeza atrai solidão. Felizes nós, com nossos cães.



[Notas.]
1. Qualquer semelhança não é mera coincidência;
2. Foto em homenagem ao meu cachorro Luke, que eu amo de paixão.

E você, quer mais?

Quem não quer mais: mais dinheiro, mais felicidade, mais amigos, mais sucesso. Mais, mais, muito mais. Então vamos buscar mais.

Imagine um mundo todo mais. As pessoas seriam mais felizes. Mais felizes elas trabalhariam mais. Trabalhando mais, ganhariam mais. Ganhando mais, gastariam mais. Viveriam mais. Sorririam mais. Teriam mais amigos. E quem sabe até mais tempo.

Saindo desse mundo imaginário, quase perfeito, podemos querer mais hoje? Sim, muitos responderiam. Todos queremos mais. Quem tem pouco quer sempre mais. Quem tem alguma coisa, quer ter muito mais. Quem tem muito também quer mais. Que ótimo se todos buscássemos mais. Não seria bom?

Sim e não. Sim, porque o mais é sempre ligado a coisas boas. Mas nem sempre. Neste sentido, não, não podemos querer mais. Seria bom mais violência, mais corrupção, mais roubos, mais assaltos, mais pobreza, mais, mais e mais? Mais pra quê? Mais por quê?

Nos acostumamos a generalizar as coisas e não a pensar sobre elas. Todo o positivo tem seu negativo. E viver nos extremos nunca é bom. Eu prefiro sempre o melhor, e não o mais. O melhor emprego, os melhores amigos, as melhores risadas, as melhores companhias, o melhor amor. Em um plano mais abrangente e não tão egocêntrico, escolho as melhores condições de trabalho e de vida, em alguns casos, melhores condições de sobrevivência. Melhor segurança, melhor educação. Pra quê mais, se podemos buscar o melhor? Melhores políticos, melhores governantes. Melhores cidadãos, melhores pessoas, melhor país. Um mundo melhor.

Se você esfregasse uma garrafa e de dentro dela saísse um gênio que lhe concederia um único pedido, você escolheria mais ou melhor?

Comece a imaginar...

Pensar dói

Esses dias em aula falávamos que pensar dói. Filósofos desde a época “antes de Cristo” acreditavam que a reflexão dava-se através de um processo intelectual doloroso. E eu tenho que concordar com eles.

Se não doesse, não viveríamos na “Era da Informação”, como muitos enchem a boca para falar desse assunto como se fosse grande coisa. Pois não é. Por que não poderíamos encher a boca e mostrar todos os dentes pra falar que vivemos na “Era do Conhecimento”?

 A diferença entre conhecimento e informação parece sutil aos olhos de muitos, mas é realmente grande quando adicionamos à discussão o quesito profundidade. Informação não requer profundidade. Conhecimento sim, requer tempo, disponibilidade e querer. Estaria eu sendo louca se não desse os devidos créditos a informação. E dou. É realmente ótimo ligar a televisão e ver que do outro lado do mundo ocorrem guerras ou desastres naturais. Acompanhar ao vivo pela internet o julgamento de um caso que obteve repercussão nacional. Realmente é muito bom se sentir informado.

Mas não há, em meio a essa enxurrada de informações, o desenvolvimento de uma reflexão crítica. Não nos perguntamos porque isso acontece, porque os seres humanos fazem guerras e destróem o nosso meio ambiente. Queremos saber e não nos importar.

E aqueles poucos que se importam são chamados de idealistas por aqueles (conformistas) que acham que “o mundo é assim mesmo”. Outros acham que isso é uma fase, que o mundo é um ciclo, que daqui a pouco tudo melhora.

Tolos eles, pois se enganam. Nós, os idealistas, percebemos que o mundo não funciona em ciclos e sim como um buraco que estamos afundando cada vez mais, com informações esmagando nossas cabeças, não nos deixando respirar e olhar um pouco mais longe. O horizonte é logo ali, mas há uma nuvem densa que nos impede de enxergar. A informação esmaga e sufoca, não permite o pensar. Mas, “pra que pensar?”, perguntam as massas informadas.

Sinceramente, ainda não sei. Possivelmente pensar leva a crítica e perceber que o mundo está na contramão dói.

Por isso meus caros, para aqueles que sofrem, é melhor sempre manter-se informados. Pois digo a vocês, pensar dói. E muito. 

Palavras que saem sem pensar

Há tempos que penso em fazer um blog, mas pensava “Fazer por quê? O que eu tenho de tão importante para que as pessoas leiam?”. Bom, depois de muito refletir, sinceramente, acho que não tenho nada a acrescentar. Mas não posso me libertar da idéia de que tenho algo a contribuir para o mundo. Sou até bem ideológica para determinadas coisas e acredito sim que todos vivemos para dar uma contribuição. Todos. Mesmo aquelas pessoas que não pensam em grandes realizações, as coisas pequenas são importantes. Em alguns casos, as mais importantes.

Enfim, o que falar em um blog? Aquilo que sinto, aquilo que penso, aquilo que sou?

Pois é, mas eu não sei me definir, e nem acho que devo. As pessoas quando se definem se limitam, pois não enxergam que nós mudamos. Créditos totais a Raul Seixas “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”. Amadurecemos, estamos sempre em constante mudança, de pensamentos, de hábitos, de tudo. Amamos, odiamos, abraçamos, choramos, sorrimos, rimos. Acredito que esta seja a verdadeira essência do ser humano: a mudança.

Que graça teria se nós não mudássemos? Se não acrescentássemos coisas e experiências em nossas vidas?