sexta-feira, 13 de março de 2015

A massificação da crítica

Dia 15 não vou pra rua. Até poderia, mas não vou. E isso não significa que eu esteja satisfeita com o governo do PT, nem significa que sou a favor da corrupção, nem significa que eu esteja vivendo bem, nem significa que estou pagando as contas e que acho justo aquilo que pago de impostos. Também não significa que sou petralha, que quero viver em Cuba ou na Bolívia ou na Venezuela. Não mesmo. 

Me permito criticar em quem votei e em quem não votei. Não sou partidária, mas sou política. Sou de esquerda, mas não sou petista. Ser de esquerda é muito maior que um partido. É seguir um modo de ver e viver a vida que não seja voltada para a economia, para o livre mercado. É alguém que pensa, vê e vive o mundo de forma mais humana, mais justa, mais social. Que quer políticas públicas que garantam o respeito e a dignidade da sociedade.

Dito isso, eu realmente penso que nosso país vai mal. Muito mal. As coisas estão todas erradas. Tá foda viver. Tá foda trabalhar oito horas por dia e ver o salário não servir para muita coisa. Vemos os preços de tudo aumentar, a conta de luz subir 50%, a passagem de ônibus ficar absurdamente alta, o governo cortar gastos com educação e não termos aumento de salário nem ganho real.

O brasileiro perdeu poder de compra. Não conseguimos consumir. Mal compramos o básico, os aumentos são absurdos. A economia vai mal, o país não cresce. Junto a tudo isso, os esquemas de corrupção, os roubos, os desvios de milhões e, o pior, a impunidade. Cresce a nossa indignação e aquela vontade de fazer justiça. Cenário perfeito para aparecerem os manifestantes e suas manifestações.

Eu não sou PT, não sou pró-Dilma, mas também não acho que um impeachment vai resolver os problemas do Brasil. Somos minimamente politizados e ainda reproduzimos velhos discursos. Todos criticam, todos discordam, todos têm uma opinião. Todos vão as ruas, todos gritam, todos pedem. Há autonomia. Mas a autonomia não é autônoma. Há voz nas ruas. Mas essa voz só repete. Essa voz não pensa. Essa voz está massificada. Essa voz virou uma esponja que absorve discursos raivosos e o reproduz. Reproduz sem pensar, sem julgamento, sem crítica. É por isso que há raiva.

Não sou contra manifestações. É um direito nosso. Mas os caminhos que rumam e marcham os raivosos vão de encontro a tudo que acredito. Utilizam-se da liberdade para manifestar-se pedindo para não mais tê-la. É ambíguo.  É contraditório. É um discurso crítico sem a crítica, sem profundidade.

As coisas estão ruins? Sim. Mas vamos pensar (um pouco) antes de agir. Se vamos para as ruas, vamos saber o que pedir. Não marchem pelo retrocesso. Marchem por avanços, por melhorias, por justiça, pelo fim da impunidade. Manifestem-se para que a nossa presidenta faça um bom governo, não para que ela saia. Pode vir alguém pior. Muito pior. E sempre pode piorar.


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