segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A lâmpada mágica

Existem certos assuntos que me incomodam mais que outros. Alguns pelos quais levanto bandeira e defendo como se fosse um pedaço de mim. Apesar de eu não fazer parte de uma minoria que sofre preconceito, seja ele qual for, defendo a causa. Por quê? Simplesmente porque faz parte de minha existência enquanto ser social não conseguir ficar calada quanto a certos assuntos, debates e discussões. Quando o assunto é preconceito, sou ferrenha defensora por igualdade, pois se eu visse um gênio saindo de uma lâmpada mágica, me concedendo algum pedido, este seria simples, já tenho na ponta da língua: respeitar o outro, acima de qualquer coisa.

Isso parece simples, a primeira vista, mas ao analisarmos mais profundamente, é demasiado complicado. Respeitar o outro? É fácil, não é? Digo-lhes que não.

Quando há um choque cultural e social é muito difícil respeitar o outro. Quando as pessoas não compartilham a mesma visão de mundo, os mesmos costumes e a mesma forma de ver a sociedade, conseguir transpor as barreiras do preconceito é cada vez mais difícil, quando não inacessível para alguns. Coloco aqui, desde já, que não estou me referindo a pessoas mais antigas, que tem mais de 50 anos, que viveram em outra época (o que ainda assim, não é justificável, porém, compreensível). Refiro-me aqui aos jovens senhores de 30 e poucos anos, sem falar nos mais novos, que vivem em uma crescente onda de homofobia.

Eis aqui o objeto de minha argumentação: homofobia. Por quê? Porque ultimamente estamos vivenciando em nosso país o que considero uma onda homofóbica. Eclodem movimentos de preconceitos que tentam justificar de forma racional e científica a origem de tamanho preconceito, ao meu ver, descabido.

Pessoas públicas se pronunciam contra os movimentos homossexuais, projetos de leis tramitam em todas as escalas governamentais de forma a institucionalizar valores antigos e discriminatórios, jovens batem, machucam e matam outros jovens por acharem que o outro é gay 1) como se isso fosse justificativa para qualquer ato violento, 2) sem contar que trabalham na suposição que o outro é gay. Somado a isso, a maior emissora de televisão aberta do país que dá um passo pra frente e dois para trás quando o assunto é homossexualidade. Na última trama exibida no horário nobre tiraram de cena um casal gay e espancaram até a morte um outro jovem homossexual. Depois disso, colocam na trama exibida atualmente um estereótipo ridículo de bixa louca que baba ovo de uma mulher igualmente ridícula, sem a menor ética ou moral, que faz questão de tratá-lo como um capacho. Detalhe: com o consentimento dele. É isso ai, vamos colocar os gays na senzala.

Um parêntese: falo da televisão e da Globo, em especial, pois não posso descartar em minha linha argumentativa que essa mídia (1) tem sim influência concreta na vida das pessoas, (2) cria sim estereótipos e (3) constrói sim parâmetros de moral e ética, trabalhando sempre com o dualismo bem X mal, colocando ali de forma explícita ou implícita seu conservadorismo cristão e modelos tradicionais, bem como seus valores ultrapassados.

No sentido oposto, percebo que há um aumento nos movimentos sociais em favor dos homossexuais, bem como medidas legais louváveis, como reconhecer a união homoafetiva e dar direitos iguais a casais homossexuais, e mais, o direito (no sentido legislativo) de constituir família, tornando legal a adoção de crianças por parte de casais do mesmo sexo. Isso sim são realmente grandes avanços, mas de certa forma, medidas que terão impacto significativo a longo prazo em nossa sociedade.

Sair do armário é só o começo.
Conheço pessoas que acham um absurdo casais homossexuais saírem nas ruas e passear em shoppings, por exemplo, de mãos dadas, vetando qualquer tipo de afeto por parte desses casais. Como se isso fosse “agredir nossas crianças”. No meu ponto de vista isso é ridículo e igualmente preconceituoso.

Que pelo contrário, cada vez mais esses casais saiam às ruas, passeiem de mãos dadas, beijem-se, da mesma forma como os casais heterossexuais. Somente assim “educaremos nossas crianças” a viver sem preconceitos, elas crescerão sabendo que podem gostar tanto de meninos quanto de meninas, que não é feio, errado ou doença. Que a homossexualidade seja naturalizada em nossa sociedade, que seja cotidiano vermos casais em locais públicos demonstrando afeto, carinho, se beijando e se abraçando.

Afinal, gostar de alguém está longe de ser algo ruim. Que “nossas crianças” saibam disso.

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