quarta-feira, 22 de junho de 2011

O mundo das idéias

Platão era um grego, discípulo de Sócrates, que colocou problemas até hoje discutidos na filosofia. Viajou muito, teve contato com diferentes linhas filosóficas que influenciaram seu pensamento e que estão presentes ao longo de sua obra. Mas até aqui, nada de novo. Essas informações você com certeza encontrará no Google.

O que mais me chama a atenção no pensamento de Platão, e venho me dedicando ultimamente a isso, é o que chama-se mundo das ideias. Para Platão existe o mundo físico, material, este que nós vivemos, e o mundo real, o mundo das ideias. Este mundo no qual vivemos é apenas uma cópia do mundo intelectual (das ideias), ou seja, vivemos uma representação do real, pois o perfeito não está aqui. Tudo o que está no mundo é falso, as coisas materiais são reflexos das ideias, pois são somente elas que, de fato, existem. Estabelecemos aqui então, que existem dois mundos: o físico e o ideal.

O mundo físico é composto por coisas materiais, coisas que são perceptíveis aos nossos sentidos. Segundo Platão, nossos sentidos não nos levam ao conhecimento verdadeiro, pois eles são enganadores, nos dão a sensação de realidade, que na verdade não existe. O corpo é limitado, é sensitivo. Não é através deste nosso corpo que chegaremos à verdade.

O mundo das ideias, ou mundo ideal, ou mundo inteligível é o mundo perfeito, real. É nele que se encontram as almas e a realidade de fato. Neste ponto, percebemos que Platão coloca o dualismo corpo-alma. Existe um corpo e existe uma alma. A alma habita o corpo no mundo físico e esta alma é livre no mundo inteligível.

Esse mundo das ideias existe. Neste mundo as almas contemplam o real, o belo e o verdadeiro. Mas então pra quê vivemos em corpo? Para Platão, como já disse anteriormente, as almas habitam os corpos para que cumpram um castigo e depois retornem ao mundo ideal, pois segundo ele, as almas são eternas e imortais. Quando caem no mundo físico, ou seja, encarnam, elas esquecem do mundo das ideias, da realidade verdadeira. O filósofo então tem o ofício de fazer com que essa alma, encarnada em corpo, relembre o seu mundo ideal e viva da melhor forma, esperando a morte para que possa retornar ao mundo verdadeiro.

Não pense que Platão está dizendo que a vida de nada vale, visto que este mundo é falso e que o corpo é um cárcere, essas coisas. Na verdade, é mais profundo que isso. Ele está dizendo que existe algo melhor do que este mundo que vivemos e que estamos habitando esses corpos apenas temporariamente. O corpo é uma passagem, a alma é eterna.

Diante disso, eu, enquanto pessoa que habito um corpo, que penso, estudo e pretendo ser melhor amanhã do que sou hoje, descubro que um carinha lá há milhões de séculos antes de Cristo me diz que existe algo melhor depois da morte, uma coisa meio espírita e bem cristã para os dias de hoje me pergunto: Qual o sentido da vida?

Para Platão o sentido da vida é o exercício filosófico, que faz com que o homem se liberte das sensações produzidas pelo corpo através dos sentidos, visando uma vida mais plena, aproximando-se das verdades que somente o intelecto pode oferecer. Mas e para mim, eu essa pessoa de carne e osso que acredito nessa realidade que me cerca, qual o sentido da vida?

Sem tirar os créditos de Platão, tenho que discordar dele. É muito cômodo pensar que existe uma “vida depois da morte”, ou então que não seja vida, mas que seja alguma existência. Se isso for verdade, a vida não tem sentido para mim. Sou e espero sempre ser uma pessoa mutante. Acredito que as coisas estão em constante fluxo e mudando a todo o momento. Acredito que nossa capacidade intelectual nos permite ir sempre além a cada instante e que mudar é sempre algo positivo. Vejo a mudança como um acréscimo. A cada mudança, uma gota dentro do copo.

Não me permito o dogmatismo e me entrego às mudanças. Acredito nas sensações, mas também me dedico ao intelecto. Se vivermos esperando o amanhã, o que então será do hoje? A nossa existência é agora, e não o mundo das ideias, da realidade verdadeira que iremos conhecer quando nos libertarmos desse corpo que nos prende. A realidade que vivo, que presencio, é verdadeira. Pode ser que não seja a verdade plena como a de Platão, mas também de que serve ter a verdade absoluta das coisas se é muito melhor entregar-se a doce loucura de viver a cada dia?

Um comentário:

  1. Muito legal Bruna.

    Gostei da forma como conseguiste colocar a questão da forma como foi pensada pelos filósofos gregos e que permanece para nós aqui e agora.

    Somos céticos e agnósticos. Mas com respeito a quem quer crer no que quer que seja.

    Um forte abraço!

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