sexta-feira, 8 de março de 2013

Energias negativas


A percepção que temos sobre o mundo acaba influenciando nossas ações sobre ele. Principalmente, influenciando as nossas ações sobre nossa própria vida, fazendo com que tomemos as rédeas de nosso destino. Acredito que existam pessoas que são infelizes justamente por não perceberem que suas atitudes é que levam ao caminho para a felicidade. Para além disso, existem pessoas que acreditam haver algo que rege nosso universo (um Deus, um espírito, um Uno, Demiurgo, uma entidade, sei lá) e que basta ficar parada, sentada, esperando que as coisas simplesmente acontecem. Não, gente, a vida não é assim.

Kant já aponta para a conformidade do homem diante da estagnação. A emancipação dos indivíduos é um processo muito sofrido, pois requer arcar com as consequências (não que isso seja ruim) de suas próprias ações. Em um post de 2011, “Pensar dói”, já me referia a este processo quase físico de emancipação da razão. Aquele que se emancipa não consegue voltar atrás. Uma vez dado um passo para frente, sendo iluminado pela razão, o ser não consegue retornar a um estágio anterior. Isso é o que dizia Kant. Ou mais ou menos isso.

Bem, que tem Kant a ver com isso? Tudo. Ao reler post anterior, “Copo meio vazio”, percebi que estava entrando em um sentimento (eu diria mais uma vibe, mas né, to superando minha fase hippie) de negatividade, de conformidade, de estranhamento e afastamento de algo que ainda está indefinido para mim. Não gosto disso, tento me afastar desses sentimentos, manter a positividade. Mas aí eu olho o quadro ao meu redor.

Quando estamos rodeadas de pessoas negativas e existem coisas boas acontecendo conosco, é difícil não ouvir coisas com um quê de inveja, de desprezo. Sempre achei que havia um escudo em mim, pois nunca dei bola. Sempre mantive minha cabeça tranquila, na boa, não dando muita bola. Porém, existem momentos que estamos com a guarda baixa e estes sentimentos acabam entrando e lentamente fazendo morada em nossa cabeça. Nos tornamos esponjas e absorvendo as energias que estão emanando para nós, sem podermos ao menos nos proteger delas. Complicado? Sim! Mais ainda, perceber quando isso está acontecendo. Porque quando conseguimos fazer o esforço referido por Kant de emancipação, a vida flui e as coisas acontecem. Mas isso é uma escolha pessoal, uma opção. Nem todos conseguem, porém, percebo que a maioria não quer.

Remédio para isso? Rodeie-se de quem você gosta, tome um capuccino em boa companhia, relaxe, medite, cante, leia e sorria. Liberte-se da negatividade e refaça seu escudo. A vida é muito mais do que blá-blá-blá-wiskas-sachê.

terça-feira, 5 de março de 2013

Copo meio vazio

Sabe quando tudo tá meio estranho? Quando o copo não está meio cheio, mas sim, meio vazio? Eu conheço essa sensação. Tenho muito medo dela. Sempre tive. Na verdade, sempre achei que essa sensação era apenas uma reação minha ao outro. Porém, percebo que não é do outro, é minha. A recorrência dessa sensação, em um momento completamente distinto, me faz pensar que a causa seja eu mesma.

Essa sensação que mistura medo, desapego, um não-querer daquilo que se quer. Negar o que se deseja, partir, deixar, sair. Adeus? Na verdade, o medo é o motivador, os demais são consequência. Oh, medo, medo, medo. Voltando a me assombrar, a me incomodar, não me dá paz, não me deixa dormir. Insegurança, desconfiança, falta de confiança. Estou entrando novamente no limbo de meus sentimentos? Dar as costas, sufocar, desistir?

Depois de todas as barreiras que consegui tirar, depois do esforço em me abrir, em me deixar levar, em querer viver, ser feliz, e conseguir, depois de tudo isso, desistir, abandonar, cegar?

Meu pior problema é o amor. Meu maior medo é amar. Não sei se estou pronta. Não sei se aguento outra decepção. Sempre penso que minha intuição nunca falha. Mas isso é mesmo intuição ou outra coisa? E se for outra coisa, o que é? Mas e se for, como faz? Sufoco, guardo, finjo que não sinto, tento esquecer? Seguir em frente é mesmo isso, é ignorar tudo, fazer cara de forte enquanto se está desmoronando por dentro? É isso mesmo?

Lentamente me dou conta de onde estou, de como sou, daquilo que sinto. E quanto mais eu nego, mais evidente fica. E quanto mais claro, mais medo, mais receio, mais tento me afastar, mais eu quero. Então é isso, é encarar tudo, viver sem medo, se quebrar a cara que se dane, porque a vida é assim mesmo, às vezes amamos, às vezes choramos. Isso? É?

Mas é como dizem, na prática a teoria é outra. E eu tenho medo.


sábado, 2 de março de 2013

[Poesia da madrugada]


E de tanto te querer
Meu coração ficou pequeno
Diante de sentimento tão grande

Tão imenso que se espalhou
Está em todo o meu corpo
Habita plenamente o meu ser

Dominou meus pensamentos
Abalou minhas estruturas
Cegou meus olhos
Calou minha voz

E de tanto te querer
Vem o medo de te perder
Pois já não me imagino
Sem o sorriso do meu bem

Não me lembro mais
Como é fechar os olhos
E não pensar em ti

Qual feitiço me lançou?
Que magia utilizou?
Será que me hipnotizou?

Porque
De tanto te querer
Só quero o bem
Do meu bem querer

Descartes e a negação dos sentimentos


Descartes já dizia que somos uma coisa que pensa. Enquanto seres pensantes, podemos excluir nosso corpo e nossos sentidos. Podemos também excluir nossos sentimentos? Segundo ele, aquilo que sentimos nada mais é do que uma das faculdades da razão. Razão essa que está implicada em nossa existência enquanto seres pensantes. Mas, ainda somos humanos? E o que sentimos não é real ou verdadeiro? Será que tudo está dentro de nosso espírito racional, sendo tudo puramente abstrato? Enquanto pensamos, não sentimos? Ou sentimos porque pensamos? Dúvidas de uma eterna pensante que sou.

Me parece estranho dizer que somos uma coisa que pensa e que somente pelo pensamento alcançamos os sentimentos. Minha leitura a respeito de Descartes pode estar equivocada, porém, não consigo aceitar que essas afirmações estejam corretas de forma indubitável.

Ao meu ver, o que nos humaniza enquanto seres não é nossa capacidade da razão, mas sim a capacidade que temos em sentir. Sentir, ir além dos sentidos, do corpo, da natureza humana que tem um corpo. Não somos um corpo, concordando com Descartes, mas igualmente não somos apenas razão, alma, espírito, uma coisa pensante. Há algo que vai mais além em nossa humanidade e, contrariando Descartes, esse algo não é Deus.

Esse algo a que me refiro é alguma coisa da qual não podemos explicar. É como uma força que nos permite sentir, transcender o nosso corpo, mas também a nossa mente. Como explicar a intuição? Como explicar os sentimentos como o amor, o ódio, a repulsa, a amizade, o carinho? Sentimentos esses que não são meramente corpóreos, que estão presentes em nós, mas não pela razão. É mais, é além. Existe algo que nos faz ir além de nossos atos, além de nossos sentidos, além de nossa razão. Existe algo que está dentro de nós, mas que não faz parte de nosso corpo, nem de nosso espírito, mas que nos humaniza.

Habitam dentro de nós sentimentos que são incontroláveis, justamente por não passarem pelo crivo da racionalidade. Sentimentos esses despertados por situações adversas que podem reagir dentro de cada ser de maneira positiva ou negativa. Algumas pessoas que se entregam a estes sentimentos, as paixões que são despertadas em sua alma, pessoas românticas, que vivem toda a intensidade dos seus sentimentos, sem barreiras e sem medos. Outras, cautelosas, tentam ignorar ou controlar cada movimento e cada sensação, pois não suportam a ideia de perder o controle de si mesmas, muitas vezes, justificando e racionalizando seus próprios sentimentos.

Descartes certamente não teve um grande amor. Provavelmente dedicou-se aos seus pensamentos filosóficos que não fez o que havia de mais importante: viver.

Longe de mim aqui querer julgar ou, até mesmo, apontar e criticar a maneira como cada indivíduo reage as mais diversas situações e sentimentos. Porém, parece haver uma necessidade de proteção dos sentimentos, de congelamento daquilo que pode ser sentido e vivenciado com certa intensidade de emoções. Neste sentido, Descartes poderia se encaixar como uma luva na justificação para estes indivíduos. Entretanto, quais os ganhos de tamanha proteção de si mesmo?

Admito que não controlar aquilo que sentimos nos tira de nossa zona de conforto. Admito também que por muito tempo vivi trancada dentro de meu próprio ser, congelando qualquer manifestação mínima de emotividade que pudesse me desestabilizar e não controlar aquilo que sinto e penso. Felizmente consigo perceber que essa fase passou.

Não há motivos para a busca constante de felicidade e para evitar ao máximo a frustração. Qualquer pessoa que tenha contato com uma criança sabe que é importante que ela ouça “não” e que não ganhe tudo aquilo que deseja. Se somos criados dessa forma, por que ao nos tornarmos adultos não conseguimos mais lidar com a rejeição e com os “nãos” que vamos levando pela vida? Seria esse o motivo pelo qual tentamos negar aquilo que sentimos?

O fato é que não há como viver isento de emoções. Descartes coloca nossos sentimentos e nossos sentidos no mesmo patamar, como sendo parte de nossa racionalidade. Em relação aos sentidos até concordo, com certas restrições e críticas que não cabem apontamentos por hora. Mas, com relação aos sentimentos, ainda creio que são estes que nos humanizam, que nos diferenciam dos outros animais. Não sou contra a racionalização dos sentimentos, mas sim contra a negação deles.

Não controlar é sentir. E sentir é viver.