terça-feira, 23 de julho de 2013

Tarde fria de inverno

Porto Alegre, 23 de julho, 8°C, céu com poucas nuvens, sol e vento gelado cortante. A sala é pequena, algumas pessoas trabalhando, ar condicionado ligado no máximo, mas sem dar conta do frio. As janelas batem forte devido ao vento. Nono andar. Não há conversa, há uma música qualquer tocando ao fundo. Algumas vezes toca o telefone, as pessoas atendem falando baixo, uma voz arrastada que não quer sair. Dedos digitando, ruído das teclas. Algumas teclas apanham, outras são tocadas com carinho. Não há sorrisos, há somente a mecânica do trabalho aguardando de forma ansiosa o final do expediente para encarar o frio e ir embora. É frio. É inverno.

Especialmente nessa tarde, ela se perdeu em pensamentos. Talvez o silêncio atípico da sala, talvez o turbilhão de sentimentos que lhe inundam o coração nos últimos meses. Talvez tudo isso. Talvez nada disso. Mas ela estava silenciosa. Silenciosa, porém, inquieta.

Há poucos meses nada a impressionava, nada a abalava, nunca era surpreendida. Vivia em seu mundo, pequeno e frio. No peito não havia um coração, apenas uma pedra, maciça, forrada por gelo. Julgava-se inatingível. Torcia o nariz para todos os tipos de sentimentos. Abraços eram recusados, afagos eram desdenhados. Apaixonados pareciam-lhe idiotas. 
Achava que era feliz assim, achava que isso era viver a vida.


Estava desprevenida o dia que foi atingida por um sorriso, talvez o sorriso mais lindo que tenha visto. Ah, aquele sorriso! No momento que viu aquele sorriso, que aqueles pequenos olhos brilharam para ela, naquele momento ainda não sabia, mas uma pequena rachadura estava ocorrendo no seu peito. Como se iludiu, como tentou ignorar tudo aquilo que sentia, como tentou se explicar e se justificar por aquilo que sentia. Racionalizava cada ação, cada palavra, cada gesto. Começou a prestar atenção nas letras das músicas que ouvia. Percebeu que as letras faziam sentido. Pegava-se pensando no dono daquele lindo sorriso no meio do dia. Sorria largamente toda vez que tinha notícias suas.

Tornou-se boba. Parou de racionalizar, parou de justificar e começou a sentir. Percebeu que não tinha mais o controle das suas emoções e isso lhe dava muito medo. Um medo absurdo, um embrulho no estômago, como mil borboletas batendo suas asas ao mesmo tempo voando do seu umbigo até o peito. Porém, quando via o dono daquele lindo sorriso, ficava sem chão, parecia que o mundo ia explodir, mas ao mesmo tempo, tudo estava em sincronia, o tempo não passava, ou passava rápido demais, ou perdia a noção do tempo.


Sempre achou que estava certa, se protegendo de seus sentimentos. Achou errado. Seu pequeno gelo estava derretendo em seu peito. É inverno e frio em Porto Alegre. Logo viria a chuva. Não sabia, mas já se encontrava apaixonada.


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