segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Feliz ano novo

Tudo é novo. Apesar da sala não ser nova para mim, pois já a conhecia, ainda assim tem algo de novo por aqui. A mesa é nova. O computador é velho. A cadeira é nova. As luzes piscam de uma forma diferente por aqui.
O trabalho também não é novo. Apesar de, ao mesmo tempo, sê-lo. O que sei é velho, mas a força é nova. A vontade é nova. Os colegas são os velhos colegas de sempre. Mas as responsabilidades são novas, maiores. E tudo isso pode acabar logo ali.
Quando um ano que tem tudo para dar errado anuncia no décimo dia que tudo vai mudar, eu desconfio. Você não desconfiaria?
Faltam plantas na minha sala. E pessoas. E café.
Mas tudo bem. O ano apenas começou.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

2016 ainda não acabou

Dia desses apareceu um vídeo de retrospectiva do ano no meu facebook. Assisti. Pude constatar que este ano foi, e continua sendo, um ano marcado por lutas. Lutamos um ano todo e, me parece, que fomos vencidos pelo cansaço.

Assistimos o golpe travestido de impeachment e estamos sofrendo as consequências da maior cagada do Congresso Nacional. Estamos assistindo o desmonte do nosso Estado, a extinção de diversas fundações, a demissão em massa de servidores. Estamos assistindo os embates de transição de governo na prefeitura. Estamos assistindo uma reforma da previdência sem a anuência da população brasileira que será diretamente atingida. Estamos assistindo uma reforma do ensino médio que não irá melhorar os problemas educacionais de nosso país. Estamos assistindo o congelamento de investimentos em saúde e educação. Estamos assistindo nossos políticos envolvidos no maior escândalo de corrupção e roubalheira em nosso país. Estamos assistindo o crescimento da pobreza e do desemprego. Estamos assistindo a intolerância e a crescente violência. E 2016 ainda não acabou.

O Congresso Nacional deu o tom: não descansaram até tirar Dilma. O mais incrível de toda essa história é que Temer conseguiu se desvincular dela, como se fosse outra coisa que não seu vice, como se ele não tivesse feito parte da coligação eleita, com propostas e diretrizes de governo que elegeram ambos. E não para por aí. Depois do golpe, o presidente não se constrangeu nem um pouco em nos mandar trabalhar e não falar de crise ou ir para o exterior e falar abertamente que foi golpe mesmo! Além disso, não se importou muito com a opinião pública e meteu pressão para a aprovação de medidas econômicas que, além de favorecer aos empresários, tornará a vida dos brasileiros miserável. E não será a longo prazo, é logo ali, é aqui e agora. E ainda, deixa correr a bicho solto as ações do Congresso, legitimando um tipo de política que há tempos não se via no país, onde o interesse privado prevalece sobre o público. Penso que o mais ético nesse caso, já que nosso país está tão turbulento, seria antecipar as eleições de 2018 e deixar que o povo, que deveria (em tese) ser soberano em uma democracia, tivesse a oportunidade de novamente eleger um/a presidente. No entanto, estou aprendendo que ética é uma coisa presente apenas em livros e aulas de filosofia. Na prática, ser ético é um defeito, geralmente associado a xingamentos dos mais diversos. Pena!

Enquanto isso, nosso Estado é desmontado. Os gaúchos elegeram um governador que não apresentou propostas durante a campanha. Com um sorriso largo e cara de gringo bonachão, as pessoas acreditaram mesmo que ele faria um bom governo, que estabilizaria a economia do Estado. Mas, na prática, o gringo se mostrou mais perdido que cusco em tiroteio, provando ser um mau administrador da máquina pública, parcelando salários, extinguindo fundações e autarquias, presenteando diversas famílias com desemprego e desolação neste final de ano. Acredito que esta é apenas uma das milhares de possibilidades e atitudes de enfrentamento à crise. Não creio que esta tenha sido a melhor atitude, nem a mais correta. Com certeza, é a atitude mais sofrível para os trabalhadores, que estudaram muito para conseguir aprovação em um concurso público, que passaram pela ansiedade da nomeação e conseguiram atingir seu objetivo. A crise foi desculpa pra boi dormir, pois provavelmente a extinção das fundações já estava na pauta do governo. Se não houvesse crise, haveria outra desculpa. Ou se criaria uma, estilo "1984" de Orwell.

Por fim, temos PSDB a frente da prefeitura pelos próximos 4 anos. Um governo que já se chega de maneira tensa com o servidor, mostrando que não estará disposto a dialogar. Um governo que promete o novo, buscando modelos de governos já falidos em outras cidades e estados. Um governo que não tem pressa em anunciar à população quem será seu secretariado e como será sua gestão. Um governo que acusa de racista quem pergunta cadê os negros e as mulheres da gestão. Um governo que está sendo construído por homens, brancos, acadêmicos, ricos, todos top top top da balada, e com alto nível de formação (que, diga-se de passagem, é acessível a menos de 10% da população brasileira). 

Assim chegamos ao final desse ano sem fim cansados, exaustos, esgotados. Tinha enchido meus pulmões com ares de esperança para 2017, mas já o perdi. Se desenha um próximo ano difícil, truculento e com muitas lutas. Espero que, ao invés de assistir, que os brasileiros possam levantar a bundinha e ir pra rua, ainda que sem a camiseta da CBF. Pois, sinceramente, pode ficar bem pior.



Boas festas!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Vamos falar [de novo] sobre o aborto?

Nos últimos dias tivemos um grande avanço na questão do aborto, quando o STF descriminalizou um caso realizado com menos de 3 meses. Enquanto o assunto ainda é polêmica nacional, para aqueles que como eu defendem a liberdade de escolha da mulher, isso representa mais um passo para uma futura legalização do aborto. Destaco o incrível argumento utilizado pelo ministro Luís Roberto Barroso, que traz para a discussão um elemento fundamental para a análise deste cenário: a mulher! O ministro defende a autonomia da mulher, bem como sua integridade física e psíquica, incluindo na discussão os direitos sexuais da mulher e a igualdade de gênero. 

"Na medida em que é a mulher que suporta o ônus integral da gravidez, e que o homem não engravida, somente haverá igualdade plena se a ela for reconhecido o direito de decidir acerca da sua manutenção ou não. (...) O direito à integridade psicofísica protege os indivíduos contra interferências indevidas e lesões aos seus corpos e mentes, relacionando-se, ainda, ao direito à saúde e à segurança. Ter um filho por determinação do direito penal constitui grave violação à integridade física e psíquica de uma mulher"¹, afirmou Barroso.

Diante deste cenário, creio que seja importante destacar alguns pontos relevantes:

1) Legalizar o aborto para quem?
A legalização do aborto se presta, principalmente, às mulheres pobres, marginalizadas, sem condições financeiras, que morrem todos os dias em decorrência de abortos mal feitos em clínicas clandestinas. Vivemos cegos para o que acontece dentro das vilas e favelas. Falamos em educação, quando muitas vezes as adolescentes pobres não sabem que podem pegar camisinha de graça no posto de saúde, por exemplo. Além disso, milhares de mulheres, independente da condição financeira, vivem relacionamentos abusivos. Não preciso lembrar que um relacionamento abusivo é também aquele onde a mulher não apanha, mas sofre violência psicológica e moral. Nestes relacionamentos abusivos, o não uso da camisinha representa o domínio do homem sobre a sua mulher. Então, imagine se essa mulher pedir para o companheiro usar a camisinha? Imagine ter um bebê nessas condições?

2) Legalizar o aborto é uma questão de saúde pública!
É uma triste realidade, mas todas conhecemos algum caso de amiga ou conhecida que tenha feito aborto. Todas conhecemos alguém que já fez um aborto clandestino! E isso é chocante! Ainda mais se pensarmos que essas mulheres poderiam ter morrido. Aliás, quantas morrem e não sabemos ou ficamos sabendo apenas por noticiários? Imagine se houvessem clínicas legalizadas, com vistoria e acompanhamento do Ministério da Saúde, ou que o próprio SUS pudesse realizar esse procedimento, com segurança e higiene? Pensando na saúde da mulher? 

3) Legalizar o aborto é colocar a mulher no centro da decisão:
Muitos argumentos contra o aborto colocam a vida do feto como principal fator para que não se realize um aborto. No entanto, um feto é, na verdade, uma potência de vida e não uma vida em si. Cabe lembrar que o sentido da vida é dado pelo meio, pelas trocas e pelas relações. Ou seja, uma mulher que quer abortar não tem ligação com esse feto, não deseja construir uma relação de cuidado e amor com ele. O amor entre mãe e bebê não é inato, é uma construção. Neste sentido, devemos pensar a vida que existe antes do feto: a mulher, a mãe, a gestante! É o corpo dela, a vida dela que está em jogo ali.

4) Quem vai cuidar dessa criança?
Não podemos tratar o aborto como uma questão rasa. Provavelmente essa mulher que está optando por um aborto está passando por um momento muito delicado e, quem sabe, até de desespero. Independente se ela sempre quis ser mãe ou não, a decisão do aborto, geralmente, é uma decisão radical. Geralmente aquela mulher pensa não apenas na vida que ela poderá gerar dentro de si, mas em que condições ela vai viver e criar essa criança. Devemos ter o cuidado de não achar que a forma como vivemos é a mais certa, nem crer que apenas as nossas escolhas estão corretas. Muitas mulheres passam fome, mal tem grana para se sustentar, são estupradas, violentadas e não tem acesso aos direitos mais básicos para viver com dignidade. Você teria um filho nessas condições?

5) Legalizar o aborto não quer dizer que vão aumentar os abortos realizados:
Assim como não quer dizer que todas as mulheres sairão correndo porta afora abortando. Quer dizer que todas teremos o direito de decidir sobre nossos corpos, sobre nossos desejos e sobre nossa vida! Que todas as mulheres que optarem por esse procedimento, que tenham segurança e que seja garantida a sua saúde. Saliento, mais uma vez, aborto é uma decisão radical, é uma violência ao corpo, mas uma decisão que deve ser respeitada. 


A saúde da mulher deve estar no topo, no centro da discussão. A vontade da mulher e a relação que ela estabelece com seu corpo deve ser respeitada. É contra o aborto? Não aborte! Mas que todas aquelas que desejam o fazer, que tenham o direito de decidir.

Isso sim é equidade :)



___________
¹http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/11/1836895-aborto-ate-o-terceiro-mes-nao-e-crime-decide-turma-do-supremo.shtml?cmpid=facefolha

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Sobre ser feminista e os feminismos por aí

Criei este blog em 2011. Atualmente tenho um pouco mais de 50 textos publicados. Ao reler alguns deles é possível perceber as mudanças na forma como escrevo, o rebuscamento dos argumentos, o amadurecimento de algumas ideias, o abandono de outras e também minha crescente indignação. Eu tenho um posicionamento político, social e filosófico bem claro. Minha intensão neste espaço e na vida é discutir ideias, pensar conceitos, criar novas soluções, pensar fora da caixa. E foi neste processo de pensar fora da caixa que me percebi como mulher, como ser pensante, como cidadã, como alguém capaz de propor mudanças e, porque não, participar dessas mudanças. Neste processo, me percebi feminista, me percebi lutadora, me percebi munida de um discurso que precisa ser ouvido, discutido, pensado, teorizado e reverberado. Neste processo, percebi também a velha máxima do "falar é fácil", por isso, resolvi fazer.

O problema de quando nos assumimos X e não Y, é que tanto X quanto Y, quanto Z e todo o alfabeto, vem carregado de conceitos, pré-conceitos, preconceitos, normas, regras e ignorância. Ignorância aqui no sentido do desconhecimento, do não-saber. Não se ofendam, não é pessoal. Mas o esforço que pretendo aqui e que devemos empreender é no sentido de desconstruir a polaridade de X e Y e começar a olhar para o mundo como X, Y, Z, H, 27, 42C e toda multiplicidade e pluralidade humana, que não será jamais contemplada em categorias binárias. Dizer que sou feminista, por exemplo, é apenas um norte para que o outro (com o qual me comunico e que não sabe o que se passa na minha cabeça) entender como me posiciono e me manifesto no mundo. É para que o outro (que está fora de mim) saiba que eu compreendo as relações de uma forma tal e não de outra.

E se colocar hoje no mundo como feminista é muito difícil. Acredito que muitas mulheres têm receio de se posicionarem no mundo desta forma, pois compreendem o desafio que está embutido aí. E eu entendo. Isso já aconteceu comigo. É preciso uma força muito grande dentro de si para se colocar enquanto feminista no mundo, para enfrentar as desigualdades e injustiças que entranham nossa sociedade patriarcal, machista e sexista. É preciso mais força ainda para, de fato, fazer alguma coisa e enfrentar os preconceitos que envolvem o feminismo e suas lutas. Diante disso, me sinto compelida a compartilhar alguns entendimentos acerca de ser feminista.

Primeiramente, ser feminista é, em seu sentido mais básico, ter a capacidade de perceber que no mundo existem diferenciações sociais, políticas e econômicas entre homens e mulheres e aceitar isso como uma verdade. Assim, tanto homens quanto mulheres têm essa capacidade e podem aceitar o feminismo e os enfrentamentos decorrentes disso.

Em segundo lugar, ser feminista não é ser petista, não é ser de esquerda, não é ser de um partido político, não é ser anarquista, nem radical. Acrescento também que ser feminista não é ser lésbica, não é ser mulher das cavernas, não é ser extremista, não é queimar sutiã em praça pública, não é ser contra depilação ou maquiagem, não é deixar de tomar banho, não é ser contra os homens, não é ser heterofóbica, nem nada disso. Existem pessoas radicais dentro do movimento feminista? Sim, existem. Assim como existem radicalismos em todos os movimentos sociais, partidos políticos, em todos os lugares, até na reunião de condomínio, não é mesmo?

Terceiro, o feminismo tem diversas correntes teóricas, desdobra-se em diferentes movimentos, cada qual abarcando uma luta diferente, sob determinada ótica. Dentro do pensamento feminista existem discordâncias, existem posicionamentos diversos relativos as mesmas questões. Existe uma vasta literatura feminista, muitas pensadoras e obras a serem lidas, pensadas, discutidas. Feminismo, além de movimento social, é também teoria e produção de conhecimento. Não esqueça disso!

Afinal de contas, o que é ser feminista então?

Num sentido geral, é tecer um olhar sobre o mundo se questionando sobre as bases das relações homem-mulher. É perceber que, até mesmo nossas pequenas atitudes e as atitudes cotidianas, são moldadas para servir à manutenção do machismo em nossa sociedade, mesmo que não aparentem e que não nos demos conta disso. É indagar-se sobre quais oportunidades nos foram suprimidas apenas pelo fato de sermos mulheres. É perceber que somos mais que um corpo biológico e crer que este corpo, que possui um sexo, não deve determinar aquilo que somos, nem o que queremos ser. É separar gênero de sexualidade. É compreender que igualdade, equidade e justiça não são as mesmas coisas. É lutar, diariamente, cotidianamente. 

No entanto, cada mulher assume seu feminismo de uma forma particular. Como já disse, existem sim as correntes radicais. Mas também existem as mulheres oprimidas, que não tem voz nem vez. E é para estas que devemos direcionar nossas práticas e discursos. Pois, se tomarmos o machismo como uma opressão fundamental, como fez Beauvoir por exemplo, se posicionar como feminista em um mundo machista e sexista como este que vivemos, é uma atitude revolucionária. E tudo aquilo que é revolucionário desestabiliza e amedronta. Mas, é preciso persistir.

Abordar questões sobre gênero nunca é fácil. Na verdade, está cada vez mais difícil. Mas é extremamente necessário e urgente! Sugiro a todos (homens e mulheres) que leiam "Sejamos todos feministas", da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que de uma forma bem humorada trata sobre os desafios de ser feminista atualmente. É um livro curto, mas contundente. (E barato também!) Ali, a autora deixa claro que ser feminista não é ser contra maquiagem, depilação, ou ficar em casa cuidando dos filhos. Que mulheres feministas gostam de se cuidar, de trabalhar, de ganhar dinheiro. Que mulheres feministas, na verdade, podem fazer aquilo que elas quiserem e ninguém tem nada a ver com isso. Que mulheres feministas assustam pelo seu empoderamento e firmeza, mas que também são frágeis e precisam de afeto. Principalmente, Chimamanda aponta para a existência de algo que ainda não foi superado em termos socioculturais. Algo que está na constituição do indivíduo enquanto sujeito. Algo que se dá nas relações. Algo mais basilar e fundamental, que rege e configura as relações humanas. A leitura vale a pena!

Voltando à máxima do "falar é fácil", acredito que fazer algo, apesar de difícil, não é impossível. Se você olhar a sua volta e começar a se questionar sobre seu lugar no mundo e admitir que existe sim machismo, diferenciações de gênero e sexismo, já é um começo. Se você parar de naturalizar que meninas devem brincar de boneca e meninos jogar bola, como se fosse uma obrigação ou um determinismo, já foram duas coisas. E assim por diante. Meu papel aqui, através da filosofia, é questionar e provocar questionamentos. Meu trabalho é com discursos, conceitos e problemáticas. Mas também é de atitude e enfrentamento. Principalmente, deixar claro que não estamos sozinhas nessa. E, sobretudo, como já escrevi em algum outro texto, afirmar que esta luta está apenas começando, que não nos calaremos. 

Empoderem-se, mulheres!



sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Carta de amor: uma reflexão sobre a autoimagem na infância

Minha querida irmãzinha,

Hoje eu li uma reportagem sobre meninas de 7 anos que já se sentem pressionadas a terem a aparência perfeita e fiquei muito triste, porque acredito que crianças não devem se preocupar com sua aparência. Crianças devem brincar, fazer amigos, ir para a escola, jogar bola, ler, ver filmes e desenhos, essas coisas. As crianças devem fazer coisas felizes, legais e divertidas, ao lado de pessoas que as amem e que elas amem também.

Fiquei pensando em nossa conversa de ontem durante a janta, em que tu estava preocupada com teu peso, por isso não poderia comer muito. Sei que sou chata quanto te digo quase todos os dias que o peso não importa, o que importa é estar saudável e feliz. Sei que sou insuportável muitas vezes com esse meu discurso. Mas tu já tem 11 anos, é inteligente, linda e perfeita, já entende muitas coisas e uma dessas coisas que pode compreender é que magreza não traz felicidade, minha irmã. 

Quando te perguntei ontem de onde tu tinha tirado essa ideia de que estava 2kg acima do teu "peso ideal", tu me respondeu que não sabia. De fato, acredito mesmo que não saiba. Acredito que muitas meninas também não sabem porque devem emagrecer se já são magras. Acredito que muitas meninas não sabem porque devem alisar os cabelos, quando seus cachos são lindos. Acredito que muitas meninas não sabem porque não podem jogar bola e se sujar na rua como os meninos, por exemplo. De verdade, eu acredito, por que de fato, tu e essas outras meninas não sabem de onde vem isso.

Existe em nossa sociedade um ideal de beleza, que muda de tempos em tempos. Esse ideal de beleza, minha irmã, é construído para que as pessoas, desde a sua infância, sejam moldadas e adequadas àquilo que é socialmente aceito. Mas isso, na verdade, é só uma das formas de controle sobre o corpo. Mesmo sem que tu perceba, teu cérebro recebe diversas informações durante o dia dizendo que para ser feliz e realizada tu tem que ser magra, de cabelos lisos e compridos, de bunda empinada, vestir uma determinada roupa, se maquiar, se depilar, entre outras coisas. Sinto te dizer, mas isso é uma grande mentira! As pessoas realmente realizadas e felizes são aquelas que conseguem não dar bola para isso e fazer aquilo que amam.

Logo estará de aniversário e muitas coisas vão mudar de verdade na tua vida. Afinal, como tu mesmo me diz, com 12 anos tu já é pré-adolescente! E essa é uma fase muito boa da vida, que não precisa ser vivida o tempo todo pensando no peso, na roupa, no cabelo, etc. Espero que tu consiga te ver da mesma forma que nós que te amamos te vemos: linda, divertida, simpática, inteligente, amável, carinhosa e com um cabelão-juba-de-leão lindo, de causar inveja! 

Tu é única! E te amo assim e te amarei do jeito que for!
Um beijo.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Empodere uma menina que ela mudará o mundo

Dia das Meninas, o que falar? O que propor de novo ao pensamento que ainda não foi dito, redito, repetido e entoado milhares de vezes por milhões de vozes? O debate sobre gênero enche o saco, compreendo. Mas é justamente por este motivo, de incomodar os acomodados, que ele se faz tão necessário. Em tempos de polarização, de exacerbação de valores tradicionais e condutas patriarcais, entendo o "Dia das Meninas" como um momento para pararmos e pensarmos como estamos cuidando de nossas meninas. 

O que ainda não se percebe em nossa sociedade, e isso é uma pena, é que as conquistas direcionadas à equalização entre homens e mulheres repercutem em toda a sociedade, para mulheres e homens. Uma sociedade que acomoda as funções dos seus indivíduos conforme seus talentos e aptidões e não conforme o gênero, certamente é uma sociedade melhor, pois vê o indivíduo nas suas potencialidades e não naquilo que lhe é externo. Se uma pessoa possui um talento para gestão de dados, por exemplo, não importa se é homem ou mulher. Da mesma forma para dar aulas, dirigir, lavar uma louça e ou cuidar dos filhos. Ao conseguirmos romper com a barreira sexista, poderemos deixar livres todos os indivíduos para realizarem aquilo que desejam, independente do seu gênero. Este é um desafio e tanto. Uma longa caminhada que apenas começamos a trilhar.

Por onde começar? Sugiro pela educação e pela saúde. Assim, por consequência, acredito que estaremos também educando e cuidando dos meninos. Pois hoje os homens não são educados para lidar com mulheres empoderadas, ao passo que há um empoderamento feminino crescente. Empoderamento é um movimento, é uma ação. Foucault já afirmava que o poder é um exercício, que se dá em uma relação. Empoderar é, neste sentido, uma conquista, que deve ser exercida no dia a dia, em todas as relações, desde pequenas, desde meninas.

"Empodere uma menina que ela mudará o mundo" (ONU Mulheres).