quinta-feira, 17 de março de 2016

Em qual lado você está?

Imagine você morar em um país onde o cafezinho custe 50 centavos e não 3 reais. Imagine você morar em um país onde a passagem de ônibus é 2 reais e estudante é isento. Imagine você morar em um país com preços baixos para alimentação e itens básicos de consumo. Imagine você morar em um país com segurança dia e noite, podendo andar pelas ruas tranquilamente as 10 da manhã ou as 2 da madrugada. Imagine você morar em um país onde a educação de melhor qualidade é a educação pública. Um país onde não hajam filas nos hospitais. Um país sem miséria, sem pobreza. Um país sem corrupção. Um país em que quem rouba, seja dos cofres públicos, seja de entidades privadas, seja uma bolsa no meio da multidão, tenha a pena devida e justa. Já se imaginou? É esse país que queremos?

Existe, no Brasil, uma linha muito tênue entre público e privado, entre pessoas e partidos, entre legalidade e ética. Ao mesmo tempo que existem lados opostos tão radicais, o meio campo está difuso e confuso. E muitas coisas acontecem entre uma ponta e outra. Coisas possíveis e coisas inacreditáveis. Vivemos hoje um momento histórico e cada um quer escrever a história do seu jeito. Cada um quer mudar o rumo da história do seu jeito. Cada um quer defender o seu rabo.

Este tempo que vivemos hoje pede atenção, calma e análise. Mas o que vemos são pessoas desnorteadas querendo tomar um lado da mesma moeda. Isso não me parece certo. Tudo está acontecendo em uma velocidade tão rápida que não temos a pausa necessária à reflexão. Precisamos (e muito) refletir. Caso contrário, somos tomados por um fervor que nos torna violentos, agressivos, radicais, acirrados. A velocidade é característica de nosso tempo. Mas ela também pode nos engolir.

Estamos fartos de corrupção. Estamos fartos dessa política podre que visa o enriquecimento dos partidos aos invés de um governo que, de fato, governe em prol da nossa sociedade. Estamos fartos de pagar 5 reais por 3 bananas. Chegamos ao ponto da saturação. Por isso a revolta, por isso a indignação, por isso o povo vai às ruas. Porém, não podemos deixar de considerar que nós, brasileiros, majoritariamente, só pensamos em política quando falamos em eleições. Ou quando somos excitados por notícias de corrupção. Nós não exercemos nossa cidadania no dia a dia. Aplicamos os princípios da moralidade ao outro e não aplicamos a nós mesmos. 

Não aprendemos a ser cidadãos e sim consumidores. E é como consumidores que nos voltamos contra o governo. Não queremos um cafezinho que custe 50 centavos, queremos ter poder aquisitivo para pagar os 3 reais do café. Não queremos SUS, queremos poder ter plano de saúde. Não queremos escolas públicas, queremos ganhar o suficiente para poder pagar uma escola particular. Não queremos andar na rua as 2 da madrugada com segurança, queremos ter dinheiro para comprar um carro maravilhoso e caro para não precisar andar na rua de madrugada. Queremos comprar e consumir e não melhorias nos serviços públicos. E é desta forma que lidamos com o governo, com os políticos, com o discurso do "pago meus impostos". Sendo que a cidadania é muito mais, é muito maior. A cidadania é cotidiana. Criticamos os políticos e governantes por fraudes e desvios, mas tudo bem pegar canetas e pacotes de folhas do trabalho e levar pra casa para uso pessoal. Criticamos a posse de Lula como ministro, mas tudo bem em usar o cargo ou influência para conseguir informações privilegiadas. Criticamos a ilegalidade dos atos dos governos, mas temos todo o direito que gritar e xingar se perdemos o prazo legal para requerimento de qualquer coisa. Criticamos as manobras governamentais e políticas que vemos todos os dias na mídia, mas tudo bem furar a fila gigantesca do busão. Não somos cidadãos. Não sabemos ser.

Lula como ministro está feito. É legal, ou seja, está amparado pela lei. Cargos de confiança são de livre nomeação e exoneração. Está na lei. Se a presidente está impedida de assumir o cargo, seja por renúncia, seja por impeachment, quem assume é o vice. Está na lei também. A pergunta que devemos fazer é mais profunda: é ÉTICO Lula ser ministro em um momento político como esse? É MORAL a Dilma nomeá-lo depois de tantas denúncias? Lei e ética são coisas distintas. Falta ética em nosso governo. Falta ética em nossas vidas.

Se eu aprendi algo com a filosofia que me valeu para a vida foi a análise e a reflexão. Principalmente em tempos fervorosos como esses que vivemos hoje. Precisamos parar para pensar, refletir, respirar fundo e nos perguntarmos: qual o Brasil que queremos? O que você está disposto a fazer para tornar nosso país melhor?




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